DESEDUCAÇÃO COLETIVA

DESEDUCAÇÃO COLETIVA

 LUIZ HENRIQUE MICHELATO

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Uma junção de emoções pode ser avaliada como catarse, nas bases citadas e difundidas por Aristóteles (399 a. C.) que dizia que tais sentimentos estavam relacionados as experiências de terror e piedade, enaltecidos pela tragédia que causa sentimentos variados nos seres humanos. Este importante filósofo e intelectual atemporal, dividia opiniões acerca de seus métodos e avaliações, retratando os prazeres relativos aos momentos de purificação que são tratados enquanto capacidades humanas intrínsecas. A Poética de Aristóteles trata sobre conceitos e movimentos da espécie humana, refletindo em inúmeras observações e trabalho de campo e de pesquisa intelectual, apontando seus elementos mais básicos que retratam as necessidades humanas. São causas que perpassam certos mecanismos importantes que possam atender de forma objetiva e satisfatória uma imprescindível convivência social entre seus pares, dando forma ao que se pretende analisar com profunda minúcia, sabedoria e inteligência.

O que se configura enquanto estratégias de sobrevivência merece destaque permanente pelos sujeitos, propondo harmonia e participação social. Parte-se do pressuposto ao analisar a natureza dos objetos, conforme observa Aristóteles (2013) dissecando o caráter falso, ilusório e prejudicial do que se pretende alcançar, uma vez que podem ser deflagradas crises internas entre os organismos sociais que possuem interesses inconciliáveis diante de seus anseios e caracteres. Neste sentido, é essencial o aprofundamento teórico e objetivo, refletindo sobre os erros e acertos da espécie humana diante de suas maneiras de convivência em sociedade, ressaltando o poder em detrimento da verdade. A concepção estética que predomina, se encontra defasada e ultrapassada para que sejam atendidos os interesses da classe dominante que privilegia o senso comum no mundo atual. É algo intransponível e que não se limita somente ao mundo exterior, fornecendo condições que representam variáveis e intrigantes possibilidades, seja no plano fictício e real, inexoravelmente traduzindo a realidade empírica.

A inclinação em ensinar, saber e aprender, condiz com as condições que estejam disponíveis para as pessoas, avaliando seu potencial de oportunidades que devem ser introduzidas nos territórios em ampla escala, oferecendo medidas para que os indivíduos se emancipem. Pode ser algo que vem do impulso em propor estratégias convincentes aos cidadãos, recriando ideias e posições com perspicaz maestria diante dos fatos gritantes que afligem a população. A procura por conhecimento deve ser constante e a sagacidade deve ser impermeável e inextrincável, a ponto de levantar hipóteses que se contradizem e implicam nas expressões da questão social. Todo procedimento deve se pautar por questões éticas, procurando modificar o modo de produção que condiciona os indivíduos à barbárie e a tragédia ao impactar na vida interior dos homens, suas paixões, seu caráter, seu comportamento e capacidade de analisar sua própria história e condição socioeconômica.

Discutir questões que se referem a natureza da realidade, ao conhecimento, a justiça e a moralidade, são cruciais para que a humanidade tome medidas conscientes sobre seu potencial de produção e de estabelecimento de relações cooperativas. O grande filósofo Platão (427 a. C.) em sua obra “A República” publicada no século IV a.C. introduz questões relativas à construção do mundo físico, fazendo uso da razão e da contemplação entrelaçada a vida prática e a política, em prol de uma sociedade justa e harmoniosa, explorando ideias atemporais acerca da natureza da realidade que deve permear a razão e a sabedoria. A indústria cultural se encontra entrelaçada ao capital financeiro e em persistentes lobbys, se utilizando de ferramentas que remediam o que se volta ao esclarecimento das massas, desmistificando o que está posto e contrapõem certos interesses, conforme apontam Adorno e Horkheimer (1944). Assim sendo, um novo desmentido ressurge diante do colapso estrutural programado pelos sistemas de comunicação e informação, que geram em frequentes casos, sentimentos de ambivalência em desfavor das mais diversificadas camadas populacionais. O caos cultural que vivemos nos empodera em dúbio sentido, vivenciado cotidianamente pelos mais dispersos grupos e forças produtivas.

A totalidade se autoexplica e se convulsiona operando em desuso ao alcance das gerações e faixas etárias, que estabelecem fatores de consumo diante da inobservância notável em carência que atinge formas de sobrevivência, haja vista os ditames propostos pela cultura contemporânea. Avesso a tamanha anormalidade e totalidade representativa em tramitação pelo poder econômico exercido por parcelas minúsculas que conseguem se organizar de maneira mais eficiente em favor de seus investimentos. O 'ritmo de ferro' do sistema tende a alavancar doutrinas que atuam pelos seus depravados interesses e especulações, desrespeitando vários tratados e acordos que estabelecem a paz mundial e a harmonia entre os povos. A oposição política precisa estar fortalecida e em entusiástica obediência às construções ilustrativas da gerência. Numa composição autoritária e depreciativa do ponto de vista humano e equilibrado, pois, são construções de ‘cidades sem alma’ e em sentido incipiente de espírito coletivo, abrangendo a falsa identidade do geral e do particular, tendo em vista o processo de submissão ao seu adversário ou inimigo, retratadas em relações sociais indignas e que não são coniventes com a resolução pacífica de conflitos causados pelo próprio homem, condenado a fracassar exaustivamente diante de suas próprias arbitrariedades e dissonâncias.

Diante do exposto, o homem precisa raciocinar de maneira responsável sobre a organização social e na busca pela educação, política e ética, garantindo acesso a todas as parcelas populacionais onde o ser humano se desenvolva plenamente em suas capacidades e potencialidades, permitindo acesso equitativo a todas as atividades possíveis aos seres humanos, descobrindo fatalmente novas habilidades individuais e coletivas que possam ser aproveitadas por todos os sujeitos. Para isso, é fundamental que se discuta figuras relativas ao campo da metafísica, psicologia, epistemologia, entre outras importantes ciências e artes promovidas pela humanidade ao longo de séculos de história em torno de inúmeras produções. Trata-se de eleger os aspectos racionais entre cidadãos, Estado e sociedade, numa relação que oriente as ações pautadas em pressupostos éticos e moralmente aceitáveis, culminando na busca de elevação total do espírito humano. Existem bastardos nos mais diversos governos e em todos os espaços possíveis, conforme destaca Montesquieu (2007) em sua magnífica obra “Do Espírito das Leis” publicada originalmente em 1748, que deriva de estratosféricas observações do autor sobre a ênfase em virtudes políticas necessárias ao funcionamento da máquina pública e de constituição da república. A exigência por costumes puros mesmo diante da odiosa natureza humana, permite o ato de repudiar a grande corrupção de costumes ao atuar na qualidade de cidadão que deve buscar atingir o supremo poder, aumentando a sua força contra os grandes.

REFERÊNCIAS

ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. A Indústria Cultural: O Esclarecimento Como Mistificação das Massas. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/adorno/1944/mes/industria.htm. 1944. Acesso em: 10/02/2025.

ARISTÓTELES. Poética e Tópicos I, II, III e IV. São Paulo: Hunter Books, 2013.

MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Martin Claret, 2007.

PLATÃO. A República. Barueri, SP: Camelot, 2021.

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