O TRABALHO DO CRAS NO TERRITÓRIO
Luiz Henrique Michelato
Assistente Social e Professor
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https://luizhenriquemichelato.blogspot.com/
Jandaia do Sul, PR, Brasil
14 e 15 de agosto de 2024
O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)
deve estar em constante movimento no Território, atuando frente as demandas
postas pelo capital no tocante as intensas injustiças sociais. É preciso
delinear um protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferência
de Renda no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), envolvendo o
impacto do atendimento na vida das famílias, bem como as relações familiares e
comunitárias. A transformação social é possível quando existe engajamento e
pressão aos organismos competentes, trazendo à tona as problemáticas presentes
no território, acerca das profundas violações de direitos e desigualdades.
É possível que a Equipe Técnica do CRAS, formada por Assistente Social e Psicólogo, esteja alinhada em desenvolver um trabalho sério e ético, de acordo com as diretrizes estabelecidas em legislações e normativas, permitindo o desenvolvimento e a implementação do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). A troca de experiências é fundamental neste processo, em vista da realização do Trabalho Social investido pelo CRAS. A proposta de trabalho deve ser conjunta com as famílias, usuários e trabalhadores das mais diversas políticas públicas e setoriais.
O ideário neoliberal se manifesta nos mais variados
espaços, estando presente no território de intensa pobreza e desemprego. A
formalidade é importante durante a realização do trabalho técnico e o Trabalho Social
deve ser organizado em caráter permanente no território, sendo preciso
documentar os atendimentos que geram importantes dados e informações dos
usuários e famílias. O Plano de Acompanhamento Familiar (PAF) é uma ferramenta
de grande relevância para o Trabalho Social a ser desenvolvido pelo CRAS.
Compreender as prioridades das famílias e usuários
é fundamental, pois, o Território apresenta várias peculiaridades, onde as
pessoas “se viram” da forma como podem. Os recursos são escassos diante de
tamanha exclusão social e os ciclos se repetem entre as gerações das famílias.
A repetição da pobreza é estrutural e conjuntural, prevalecendo o trabalho
informal “bico” “sem carteira assinada”, a renda insuficiente ou inexistente, o
desemprego, a exclusão social, entre outras expressões da questão social, sendo
essencial a análise das condições concretas dos usuários e das famílias.
A oferta de cursos para os usuários, o necessário acesso à saúde, educação, relações sociais, habitação, entre outras demandas e necessidades dos povos excluídos pelo capitalismo neoliberal, abrangem a precariedade inerente na vida das pessoas. Os relatos dos usuários são sempre importantes, considerando as mais diversas formas de violência que os indivíduos sofrem. Situações frustrantes ocorrem diariamente em âmbito de trabalho, todavia, deve ser racional a forma como lidar com os problemas que surgem. É imprescindível que haja uma constante avaliação técnica em relação à concessão de benefícios, compreendendo a pertinência e o impacto na vida dos sujeitos.
O agendamento dos atendimentos das demandas são
essenciais, compreendendo que toda mudança pode ser difícil, avaliando os
impactos na vida dos usuários e trabalhadores. Deve-se considerar o esgotamento
dos profissionais, diante da massiva demanda que são postas pelo capital em sua
face neoliberal. É preciso refletir sobre a discussão étnico-racial, bem como sobre
as novas incorporações das demandas, conhecendo o público no Território. A
sensação de impotência diante das demandas, sobre a drogadição abusiva (drogas lícitas e ilícitas), o vínculo
familiar fragilizado e/ou rompido, entre outras expressões da questão social,
pois, sempre há complexidade nas situações cotidianas. Desta maneira, a Visita Domiciliar
é crucial durante a execução do Trabalho Social da Equipe Técnica, definindo as
prioridades do atendimento e acompanhamento familiar.
Os conceitos de Território, Trabalho Social, Matricialidade
Sociofamiliar, Transferência de Renda, Benefícios Eventuais, CadÚnico, BPC, Vigilância
Socioassistencial, Gestão do SUAS, servidores, Projetos, Programas, Conselhos, Atendimento,
Participação Social, Acompanhamento Familiar, Acolhida, Oficinas, Discussão de Caso,
PAF, relatórios, pareceres, ofícios, encaminhamentos, Contato Telefônico, Visita
Institucional e Domiciliar, Reunião de Rede, Campanhas, Palestras, Atividades e
Ações Comunitárias, entre tantas outras ferramentas e ações a serem executadas
pelo CRAS, convertem e exigem esforços dos profissionais, do serviço público, da
sociedade, do financiamento da política pública, entre outras questões
relativas ao funcionamento do CRAS no território e a quantidade de famílias
referenciadas a ele.
As dificuldades são gritantes no dia a dia de trabalho dos profissionais do CRAS, sobretudo ao agir, pensar e refletir sobre sua própria atuação profissional e funcionamento do serviço, considerando a imprescindibilidade em se implementar dinâmicas com as famílias e usuários, podendo abranger músicas, experiências de vida, contação de histórias, rodas de conversa, entre outras possibilidades de intervenção, trabalhando com conteúdo que estejam coordenados as necessidades presentes no Território, favorecendo o relacionamento com os usuários, sendo sempre importante ter paciência e refletir sobre a atuação profissional e possibilidades de melhorias e avanços. Existe a subjetividade e a percepção do trabalho sobre as ações a serem pactuadas no Plano de Acompanhamento Familiar (PAF) a ser estabelecido juntamente com as famílias.
É crucial saber a diferença entre Atendimento e Acompanhamento
Familiar, considerando a intervenção com as famílias e usuários, uma vez que, o
atendimento é pontual, e o Acompanhamento Familiar é algo contínuo e articulado
com as demais políticas públicas. Sempre é pertinente interpretar as
linguagens, planejando as ações a serem realizadas, com direcionamento claro e
identificação das famílias, avaliando a composição familiar e fazendo um diagnóstico
que contenha objetivos, dados do território, estratégias e ações, monitoramento
e avaliação, estudo de caso, aspectos de baixa escolaridade e evasão escolar,
desemprego, informalidade, criminalidade, violência, tráfico, queixa e demanda,
pois, sempre existe algo a ser feito com a família, avaliando a fragilidade das
políticas públicas, programas, projetos, abordagens e perspectivas condizentes
ao Trabalho Social realizado pela Equipe Técnica do CRAS.
O Território deve ser pensado segundo suas
dificuldades e potencialidades, analisando conjuntamente com os profissionais
do CRAS e com as famílias e usuários, quais são as possibilidades e ações que
podem impactar de forma positiva no ambiente. Projetos de economia solidária, atividades
comunitárias, campanhas e intervenções eficazes podem ocorrer de acordo com o
comprometimento e qualidade dos serviços. É preciso se libertar de falas como
“ele/ela não adere”, “não tem mais o que fazer”, “eles/elas são ‘ajudados’ pelo
CRAS”, “vou pegar uma cesta no CRAS”. Entre outras falas e pensamentos que somente prejudicam o
importantíssimo Trabalho Social do CRAS. Contudo, é preciso sempre ressaltar
que o CRAS não faz ajuda e nem caridade, e sim, deve realizar um
trabalho sério, técnico, ético, organizado, pensado, articulado, estudado e de forma coletiva
juntamente com outras políticas públicas e principalmente com os usuários do
serviço, sempre respeitando a história de vida dos usuários e famílias, propondo a necessária autonomia, protagonismo e emancipação. Outra
questão, o termo “usuário” não remete a “usuário de drogas”, e sim, à usuários
de serviços públicos e de políticas públicas, considerando que todos nós somos
usuários de serviços públicos, seja diretamente ou indiretamente, pois, vivemos
numa sociedade e numa aldeia global.
O grande geógrafo Milton Santos (1926-2001) em sua
obra “Pensando o Espaço do Homem” apresenta elementos fundamentais sobre as
relações sociais que se estabelecem no território, problematizando o espaço
enquanto acumulação desigual de tempos e as noções sobre o espaço construído
pela humanidade, que abrange características temporais entre passado, presente
e futuro, se desdobrando no cotidiano dos seres humanos.
Neste sentido, deve-se pensar o espaço e o
território de acordo com suas relações de poder, com o que se encontra nas
entrelinhas, naquilo que não é dito, que se encontra registrado na história. O
espaço deve ser verdadeiramente humano, unindo as pessoas em torno do trabalho
digno, livre da exploração entre os homens, sem divisão de classes, construindo
um espaço e um território onde as pessoas possam produzir bens, serviços e
riquezas que possam ser usufruídas por todos, liberto dos fetiches e parâmetros
de consumo estabelecidos pelo capital, permitindo a construção de um espaço de
reprodução da vida e que não traduza a convivência em mercadoria, compreendendo
o homem enquanto objeto para o capital.
REFERÊNCIAS
LONDRINA/PR.
CRAS em Movimento. Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Secretaria
do Desenvolvimento Social e Família (SEDEF). 14/08/2024.
SANTOS,
Milton. Pensando o Espaço do Homem. 5ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2007.
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