EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO HUMANA

 

 

EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO HUMANA

 

Luiz Henrique Michelato

Assistente Social e Professor

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Jandaia do Sul, PR, Brasil

29 e 30 de agosto de 2024

 

O sistema educacional brasileiro, deve reconhecer a ideologia e o movimento político que prevalece no currículo educacional, que forma seres alienados e desprovidos de consciência crítica que fundamenta a vida em sociedade, tornando os indivíduos “bovinamente” convertidos a aceitarem pacificamente às leis, regras e desejos da burguesia, compreendendo em muitos casos uma profunda violação de direitos e deveres estabelecidos na sociabilidade que vigora há muito tempo na história. O ensino tradicional, tecnicista, “decoreba”, desprovido e distante da realidade, “emburrece” e causa impactos nocivos no tocante a evolução da própria sociedade, comprometendo uma boa convivência social, que preze pelos sentimentos afetivos e verdadeiramente humanos, do ponto de vista da resolução pacífica de conflitos. A arte de ensinar e aprender conjuntamente deve ser amplamente difundida, coletivizando os meios de produção e os grandes conglomerados comerciais, que somente pensam no lucro, estando viciados em sua própria ambição e orgulho, enganando uma parte considerável da população, que aceita passivamente os ditames e conchavos das “elites feudais”, contrapondo valores humanos e sociais voltados ao bem comum, real democracia e justiça social.

Precisamos nos remeter a Libâneo e Pimenta (1999) que indicam que os educadores devem ter visão crítica e perspectiva de mudança do sistema que se estabelece e somente promove caos e degradação. A formação de professores deve se pautar em conhecimento científico e filosófico, propondo um processo de ensino e aprendizagem que permita que os educandos desenvolvam seu maior potencial por meio de variações e recursos didáticos, estimulando o pensamento, a reflexão e o senso crítico dos estudantes. O pedagogo escolar, os professores, os trabalhadores, a equipe pedagógica, apropriadamente devendo ser multidisciplinar, juntamente com a comunidade, estudantes, pesquisadores e demais envolvidos, devem promover o engajamento dos seres humanos, buscando potencializar as capacidades e habilidades dos sujeitos, através do conhecimento científico e filosófico, cultural, psíquico, ideológico, político e social, para que a sociedade melhore e evolua em todos os sentidos e vibrações que podem surgir, permeando valores democráticos e justos socialmente.

Uma escola não deve ser considerada como algo que serve para “acolhimento de pobres” tratando-os como meros animais irracionais que fracassaram e merecem ser excluídos do modo de produção capitalista, que somente estimula o consumo e a destruição do planeta terra e seus recursos naturais que são escassos em muitas localidades que se encontram em situação de intensa pobreza e desigualdades, contrariando as determinações das leis burguesas que permeiam valores democráticos, justos e sociais, algo que compreende o velho ditado do “cada um por si, e deus por todos”, favorecendo um tipo de pertencimento individualista, egoísta, mesquinho e estapafúrdio de tentativa de sobrevivência em meio a um caos insano e imposto pela classe dominante.

Os genuínos educadores devem estimular as mais variadas e possíveis capacidades dos educandos, apresentando todo tipo de ciência, arte e cultura, uma vez que é possível o pleno desenvolvimento dos alunos, durante o processo de ensino e aprendizagem. O conhecimento deve ser construído de maneira coletiva e conjunta, estabelecido através do respeito e da responsabilidade social dos seres humanos. Libâneo (1994) defende o devido planejamento escolar, prevendo as atividades por meio da organização e coordenação, procurando sempre ponderar pelo bom senso, respeito e valores democráticos. É possível haver readequações durante o processo de execução de um planejamento, ressaltando seu aspecto de pesquisa, reflexão e avaliação dos objetivos a serem alcançados e pactuados coletivamente.

É imprescindível superar o senso comum, de acordo com Saviani (2009), fomentando a elevação da consciência filosófica, que deve desenvolver uma didática que promova sujeitos com capacidade crítica para pensar e reconstruir o mundo decadente que vivemos, recheado de falsos moralistas e sofistas que se utilizam de uma retórica superficial e leviana, se aproveitando da alienação que predomina em sociedade. O caráter tradicional, tecnicista, liberal, reacionário e conservador que fundamenta a educação e a pedagogia escolar, deve ser abolido para que seja possível reverter este quadro catastrófico que vivemos, com níveis irrisórios de quociente de inteligência, com pessoas que não sabem fazer análise de conjuntura e compreender sua própria realidade existencial e o mundo que vive. É essencial que a população saiba entender seu espaço e sua importância no sistema que sobrevive, avaliando os impactos de suas decisões na sociedade.

A proposta educacional deve privilegiar o processo de construção da emancipação humana, fortalecendo a autonomia e o protagonismo dos indivíduos, rejeitando valores burgueses que sujeitam os seres humanos a reles objetos e mercadorias facilmente substituíveis e descartáveis, contrariando o necessário bom senso e o estabelecimento de formas democráticas e saudáveis de existência em nossa sociabilidade. A metáfora e a retórica vazias de preceitos adequados e que condizem a totalidade e realidade gritante dos seres humanos, proposta por meio da degradação das relações sociais, conduzem a sociedade à beira do caos e da guerra em todos os continentes, retratando uma realidade cruel e opressora que escraviza, mata e massacra o povo trabalhador que move a sociedade, produzindo bens e riquezas inestimáveis que são usurpadas pela classe dominante irracional e imoral.

Os educadores, trabalhadores e intelectuais orgânicos devem agir em prol da construção de uma sociedade voltada para o bem comum e a justiça social, estimulando as mais variadas camadas populacionais a pensarem de forma crítica o mundo capitalista neoliberal e fascista, propondo a subversão da “podre” desordem burguesa que somente lucra e endivida o povo, os tornando “escravos” do capital. O processo de “plataformização” exacerbada, atrelada ao capital financeirizado e neoliberal, gera fetiches imbricados ao consumismo e a “mercadorização” das vidas em sociedade, fundamentada pelo lucro do mercado e intensas injustiças sociais relativas ao desemprego em massa, uso desordenado e irracional da Inteligência Artificial (IA), prevalecendo o ódio entre as classes sociais, através de guerras, matança, pobreza cultural, capacidade destrutiva das forças produtivas, exercendo um poder sub-humano nas relações comunicacionais e participativas.

Ao ouvir e aprender com o sociólogo e professor Ricardo Antunes, em sua brilhante explanação no evento organizado pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), realizado em 28 de agosto de 2024, evidencia-se que devemos superar o modo de produção capitalista, devendo promover o ensino crítico e de qualidade, que pense de forma crítica as desigualdades e profundas injustiças sociais, gerando imensos problemas e perturbações da ordem que se estabelece. A mão de obra se encontra com baixa escolaridade e sofrendo demasiadas violações de direitos que não são respeitados pela classe dominante que predomina e se perpetua de forma irracional, violenta, autoritária, esdrúxula, arrogante e mesquinha, viralizando de uma maneira “pseudocomum” e natural, sobrepujando o individualismo, a inveja e os sentimentos egoístas nos seres humanos, usando-se dos aparatos disponíveis que escancaram verdades que de certa forma não podem ser ditas.

O conteúdo pode ser inverídico e ideologizado de maneira antiética pelos organismos sociais de produção, comunicação, uso de algoritmos, presença de descensos que promovem um exagerado ódio de classe, utilizado de forma equivocada pelo utilitarismo, fatalismo, identitarismo, multiculturalismo e descrença aos interesses sociais e coletivos voltados e fundamentados pelo bem comum, pelo associativismo, pelo cooperativismo, pela autogestão dos serviços, programas, projetos, ritmo de trabalho e as mais variadas instâncias sociais, políticas, econômicas, entre outras possibilidades.

A classe trabalhadora precisa reconsiderar seu papel de classe revolucionária reconhecendo suas capacidades enquanto forças produtivas que neste sistema somente gera lucro para poucas pessoas, famílias ou corporações, destacando o mercado da indústria bélica, tecnológica, ideológica, farmacêutica, entre capital e trabalho. A proposta educacional, cultural, política, estrutural, social e conjuntural deve permitir o desenvolvimento das mais variadas habilidades dos seres humanos em prol da boa convivência social, promovendo os interesses dos livres produtores associados que ressurgem de um sistema cruel e opressor que não possui bom senso em distribuir a riqueza socialmente produzida entre todos os seres humanos, através de trabalho digno entre os 18 e 59 anos de idade, em escala de trabalho reduzida para que todos possam usufruir do que é coletivamente construído em nível global das relações humanas.

 

REFERÊNCIAS

 

CFESS (Conselho Federal de Serviço Social). 80 anos do Serviço Social na Previdência: direito da classe trabalhadora. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LRrOS_a71z4. Acesso em: 30 ago. 2024.

LIBÂNEO, José Carlos; PIMENTA, Selma Garrido. Formação de profissionais da educação: visão crítica e perspectiva de mudança. Educação & sociedade, v. 239-277, 1999.

________O planejamento escolar. Didática. São Paulo: Cortez, p. 221-247, 1994.

SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. Campinas, SP: Autores Associados. 2009.

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