Menos Gênero e Mais Classe
Menos
Gênero e Mais Classe
LUIZ HENRIQUE MICHELATO
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A
história comprova que invariavelmente existiram indivíduos mais abastados em
todos os sentidos possíveis. Sócrates foi acusado de corromper a juventude ao
problematizar e refletir sobre questões cotidianas. A obra “A Apologia de Sócrates”
contempla o fundamento da ciência e da filosofia política entrelaçada ao poder,
de acordo Platão (427 a.C.). Tais posições foram articuladas e redundavam na
defesa da liberdade de pensamento, haja vista o teor que condiciona os sujeitos
a saberem utilizar a liberdade de expressão, avaliada enquanto luta do homem
crítico contra as eventuais consagrações da multidão. Dizer a verdade, é algo
que não ocorre por quem pode acusar ao transcorrer em juízos de valor,
ressaltando a necessidade em lutar por liberdade e coragem perante o poder que
se desenvolve. O que pode corromper os cidadãos? A ‘luta por migalhas’ do
Estado burguês neoliberal se realiza enquanto estratégia de permanência de uma
doutrina elitista que manipula a população.
O saber pensar e agir precisam estar articulados em todos os níveis e complexidades, o que determina o gênero e a classe e em qual sentido estes se engrenam em todos os campos e nuances possíveis. O movimento da classe trabalhadora que produz a riqueza social, carece de técnicas e estratégias que avaliem seu potencial histórico enquanto classe revolucionária que deve inevitavelmente buscar a emancipação humana e uma forma de produção livremente associada, variando de acordo com as capacidades dos sujeitos. O consumismo desenfreado tem ‘aprisionado’ os seres humanos em sistemas de liquidez intensos e duradouros, destacando o entorpecimento geral das classes sociais e das massas subalternas. Combater a raiz dos problemas, se torna mais importante do que atacar os seus ‘frutos podres’ e desprovidos de caráter, avaliando a histórica luta de classes que atualmente se desdobra pelo viés do empreendedorismo, fazendo o trabalhador acreditar que agora ele é empresário de si mesmo e está livre para ser ‘rico’.
A
inquietude deve nos levar a crer nas aberrações mórbidas que estão sendo
catalisadas em larga escala. Trata-se de algo que resulta em impactos nocivos à toda
população, que carece de alternativas diante da desfaçatez sistêmica que se
instaura há séculos em nossa comunidade. As elites atuais precisam ‘pagar a
conta’ por tais atrocidades que se repetem em inúmeros territórios em escala
global. Desta forma, quais são as leis do mercado? O que ele ressalta? Quais
suas qualidades? Podemos constatar o quanto a inércia predomina diante das
adversidades observadas, em estado implícito, enquanto economia das práticas,
precificada pelos ‘detentores do poder’ que se tornam arredios diante das
necessidades humanas e dos subalternos, compreendida pelo sentido objetivo das
obras e instituições e que variam durante a realização da ação racional e da
reação mecânica em relação ao preço mecanicamente orquestrado pelo mercado,
condizendo a uma realidade social que prevê o cidadão e seu status social,
referenciado a sua renda e poder de consumo que demonstram superioridade ao
obter objetos de maior valor numa sociedade que se mede pelo dinheiro e riqueza
material que o indivíduo possa usufruir e dispor ao seu alcance, a priori
podendo ser considerado como uma forma miserável e ‘podre’ de sobrevivência, onde
o luxo e a miséria ‘caminham lado a lado’, e ao mesmo tempo nos acovardamos diante das
gritantes necessidades da população.
Bourdieu
(2008) destaca sobre os conceitos que se desdobram entre cálculo racional e
intenção inteligente que pode refletir em uma ação deliberada, baseado na
convergência entre aspirações e projetos que estão coniventes com a força de
trabalho disponível, facilmente substituída em várias circunstâncias, e exigida
em outras ao se atropelar pela concepção de flexibilidade intensa a ponto de
levar trabalho para casa e gerar uma completa mais-valia para o capital, ao
mesmo tempo que temos uma grande parte de mão-de-obra desqualificada, com baixa
escolaridade, analfabeta funcional e completamente subserviente ao sistema e
modo de produção. As leis de um equilíbrio quase mecânica enaltecem
determinadas capacidades humanas, atuando em privilégio obsessivo por dinheiro
ou bens materiais supérfluos ou desprezíveis, programados para serem
descartados no menor tempo possível para que entremos numa cadeia repetitiva e
exaustiva de consumo, sem percebermos o quanto estamos viciados e endividados,
exacerbando o lucro de grandes empresas, conglomerados nacionais e
internacionais e de instituições financeiras em escala global.
Qual o
futuro das classes? Quais gêneros existem? Quem detêm os meios de produção?
Qual o significado de identitarismo? Qual o conceito de multiculturalismo? Existe
fragmentação da classe trabalhadora? Burguesia x proletariado ainda existe? Queremos
direitos ou privilégios? O que é individualismo? São questões que necessitam de
constante avaliação dos organismos competentes, considerando a confluência que
escancara uma realidade caótica e repressiva, variando segundo a renda e o
poder de consumo dos ‘animais racionais’. Os investimentos perpassam a
realidade de vida de muitas pessoas, onde em muitos casos os desprazeres são
contínuos e consequentes de uma gritante exclusão social. O senso comum atribui
o termo ‘classe’ a forma como supostamente pessoas educadas tendem a se
relacionar, considerando a proximidade do conceito entre quem tem dinheiro e é
consequentemente visto e tratado como uma pessoa educada e cortês, contra quem
é pobre e é considerado deseducado e deselegante, enquanto algo que reverbera
em grotescas formas de sobrevivência que se fundamentam em preconceito e ignorância
diante dos fatos, apreciado consideravelmente de forma errônea pelos organismos
díspares e divergentes em suas análises e corriqueiras deturpações.
O ser
humano necessita de reflexão diária sobre o que circunda sua vida, mobilizando
formas alternativas que possam resolver os paradigmas intrínsecos às relações
sociais contemporâneas. O debate carece de aprofundamento teórico, empírico,
metodológico e técnico, considerando o imediatismo medíocre e que embrutece as
relações que podem ser pacíficas e resolutivas em todos os aspectos da vida
social. O gênero masculino e feminino precisa ser problematizado dentro dos
parâmetros estabelecidos pela engrenagem envolta ao modo de produção e pesquisa
científica. Precisamos pensar com maior empenho sobre o conceito de classe e
suas implicações na sociedade, do que propriamente acerca do conceito de gênero
em suas pretensões inóspitas e possivelmente esdrúxulas ao considerar o valor
produzido pelas classes sociais em sua substância constitutiva e basilar entre
causas, consequências e efeitos. Contudo, a discussão jamais se esgota e o
conhecimento frequentemente se reproduz e se recicla. ‘Influenciadores’ tem
influenciado de que forma a população? Quais impactos são causados em todas as
amplitudes? É preciso reconsiderar as variáveis e determinantes possíveis
diante de um conteúdo explicitamente desprovido de capacidade crítica e que
condiz em resolver os problemas da nação, predominando a ‘lacração’ exacerbada
e estúpida por meio das redes sociais. A covardia tem sido peça-chave diante de
tais absurdos cometidos por sujeitos que apresentam evidentes limitações em
todos os sentidos prováveis de serem analisados por quem possui competência
suficiente para propor estratégias viáveis à coletividade.
Como
explicar o capitalismo? A partir de quais análises e vertentes seria possível?
É preciso avaliar até que ponto uma sociedade que se constrói por meio da
exploração entre os próprios seres humanos pode ser considerada saudável em
vários aspectos. É preciso saber se é honesto e adequado um homem explorar
outro homem por meio da mais-valia, subtraindo suas capacidades através do modo
de produção que se estrutura. É preciso reconhecer se a riqueza que é
socialmente produzida é usufruída pelos indivíduos em sociedade. Em qual medida
tais reflexões se referem? Um ponto de vista aquém do necessário tende a causar
equívocos persistentes, considerando os ‘cérebros podres’ que estão
contaminados por conteúdos biltres, brutais, idiotizados, supérfluos, irracionais,
imbecilizados e safardanas.
O ‘démodé’ insiste em contradizer certos valores impostos por determinados mecanismos de controle. Afinal, o que dê certo existe entre gênero e classe, e quais suas imbricações pertinentes? As redes sociais propagam superficialidades incomensuráveis em variados aspectos, seja alimentando uma cadeia produtiva de conteúdo que torna as pessoas ‘burras e escravas’ de um consumo desenfreado e paradoxal, caindo numa redoma encruzilhada que não permite ver além das aparências, culminando em manipulação excessiva por meio de organismos que desejam lucrar inescrupulosamente através de atitudes extremistas e polarizadas que servem como sustentáculo para que as elites econômicas e políticas se perpetuem no poder, garantindo sua existência por meio de atitudes insanas, repressivas e desordeiras que promovem um imenso e abissal colapso nas relações sociais. Enfim, descobrir a luta de classes e a exploração entre elas, bem como sua fragmentação e desarticulação, seja talvez mais importante que lutar por direitos numa perspectiva neoliberal financista e protofascista. Quais são os pressupostos que dimensionam a teoria das ideias, ou a teoria das formas ideais, de acordo com Platão (2013) ao transcorrer seu pensamento diante do mundo em efervescência. O mundo ideal se distancia do mundo histórico e atual que prevê a fábula para enganar os indivíduos. Precisamos compreender as formas e os efeitos que refletem na maneira como as pessoas procuram conviver. O “dedo em riste” representou e representa uma forma que se encontra escassa ultimamente, configurada na pobreza cultural que se desdobra em todas as instâncias.
O mundo
das ideias e as formas ideais, requerem intenso trabalho e estudo, buscando
contribuir com a relação crucial entre todas as alçadas do universo do trabalho,
do estudo, do conhecimento e da pesquisa científica, aliando teoria e prática
que consiste em profundas análises, ponderações, trabalho de campo, entrevistas
e avaliações sobre o sistema de produção e das relações sociais e econômicas
que se sobrepujam. Isto é algo que exige incansavelmente do trabalhador, pesquisador
ou escritor que se propõe a discutir e a elaborar pretensas elucubrações que
sejam plausíveis e eloquentes em contraponto a forma insana que vivemos há
séculos. A demagogia do pensamento abrange a ‘podridão’ de conteúdo e ‘emburrecimento’
geral da população, levando as pessoas a acreditarem em fetiches consumistas.
Neste sentido, não há barreiras para o conhecimento e que continue a luta
contra a mediocridade imposta pelas elites boçais, que inegavelmente possui
poder e dinheiro para estabelecer seus parâmetros de convivência desleal e trágica.
É imprescindível observar a equidade dos homens, presidindo a hospitalidade dos
cultores da justiça e da sanidade, tendo em vista o orgulho que tende a
corromper a humanidade. O que tem prevalecido são argumentadores tão fracos e
incapazes de avaliar a própria existência desprezível e decadente que os condena, ‘chafurdando na lama’ da ignorância e de uma vida mesquinha e
estúpida.
É
essencial surpreender e refutar diante das adversidades que se complementam
entre a estupidez humana digna de vangloriar ‘pseudocelebridades’ e ‘pseudoartistas’
desprovidos e ausentes de sentidos, enaltecidos pelas redes sociais que atuam
sobremaneira para confundir a população diante de um conteúdo que se supera em
mediocridade e alienação. Pesquisar e estudar sobre este assunto nos mostra uma
‘luz no fim do túnel’ onde seja possível que a Inteligência Artificial (IA)
seja utilizada de maneira ética em prol dos seres humanos, e não somente atenda
ao lucro de ínfimos organismos que movimentam imensas quantias em capitais e
investimentos, sonegando impostos e não contribuindo de forma satisfatória para
a vida em sociedade, possuindo uma dívida histórica pelo caos que cometem
contra a humanidade ao não propor formas saudáveis de sobrevivência,
necessitando em caráter de urgência que paguem seus tributos de acordo com sua
renda, e não somente pelo consumo, pois, torna-se inconveniente e profundamente
injusta tal forma de existência.
Como combater a ignorância da maioria manipulada por tais organismos de poder, propaganda e marketing? A maioria se encontra ‘emburrecida’ para manter a lógica do capital, entretanto, poucos percebem tamanha discrepância social diante dos fatos que se colocam, historicamente definida pela luta de classes que se apresenta iluminada pelas tendências estimulantes do século XXI, permitindo que poucas pessoas continuem se mantendo no poder por meio da ignorância que propagam, se contradizendo entre as mais variadas aparências, de altivez sobranceira que merece destaque e ênfase, carecendo em absoluto de merecimento ao ressaltar os que são considerados dignos de todo privilégio e regalia que se fomenta através da tragédia presente nas relações sociais, segundo Platão (2013). ‘Cérebros podres’ são continuamente exercitados pela permanência em tal condição degradante, seguindo a lógica que se perpetua há séculos na sociedade, onde ser milionário enganando e explorando outras pessoas é sinônimo de status social e de sucesso, no entanto, conquistado em detrimento de sua própria dignidade, moral e ética, virtudes raras de serem encontradas. E viva o ‘pobre de direita’, ‘burro’, alienado e que se acha superior por dispor de certo poder de consumo, e que concomitantemente é incapaz de reconhecer sua própria mediocridade e ignorância ao acreditar nas falácias ideológicas que são impostas pelo ‘deus capital’ através de seus mecanismos de controle social. Afinal, ‘vigiar e punir’ é fundamental neste processo que determina os valores inerentes das classes sociais em seu poderio secular.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, P. Escritos de Educação: Futuro de classe e causalidade do provável. (1974) Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: https://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 09/02/2025.
PLATÃO. Apologia de Sócrates & Crítonn. São Paulo: Hunter Books, 2013.
________A Teoria das Ideias. São
Paulo: Hunter Books, 2013.
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