SERVIÇO SOCIAL, NEOLIBERALISMO E CULTURA


SERVIÇO SOCIAL, NEOLIBERALISMO E CULTURA


 LUIZ HENRIQUE MICHELATO

https://www.amazon.com/author/luizhenriquemichelato

 

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo, compreender e analisar o Serviço Social enquanto profissão clarificada sob o ideário burguês, pelo viés crítico-dialético, bem como, quanto aos rebatimentos do sistema neoliberal e as expressões da questão social impulsionadas pela luta de classes no âmbito do sistema capitalista, apresentando a cultura como pressuposto ideológico e de construção sócio-histórica, visando as contradições inerentes a sociedade contemporânea, e a problematização entre reforma ou revolução no âmbito do Serviço Social e de uma possível transformação social estrutural da sociedade atual. O texto é construído através de material bibliográfico sob o ideário do materialismo histórico-dialético, apresentando fontes que embasam o Serviço Social crítico, que se estrutura através de análises históricas dos rebatimentos do neoliberalismo em naturalizar a pobreza, obtendo-se resultados que propiciem a problematização acerca das transformações necessárias a construção de uma nova forma de sociedade, livre das amarras do capital.

 

Palavras – Chave: Serviço Social. Neoliberalismo. Cultura. Crítica. Transformação Social 

 

INTRODUÇÃO

 

O presente texto, apresenta-se como forma de analisar e problematizar as questões do neoliberalismo e da cultura ao Serviço Social enquanto profissão preconizada em defender os interesses do capital, bem como avaliar seu potencial de mudança e união junto a classe trabalhadora. Todavia, o tema justifica-se pelas atuais demandas do Serviço Social em atender as expressões da questão social, postas pelo capital neoliberal, bem como a cultura predominante na sociedade contemporânea, sob o viés da alienação e pleno desenvolvimento das capacidades do ser humano.

Contudo, justifica-se problematizar a sociedade capitalista neoliberal, no intento da transformação social estrutural, dando-lhe um recorte pelas reformas, através da social-democracia, garantidas em inúmeras legislações, bem como com a essencial caminhada ao socialismo\comunismo, imprescindível à sobrevivência humana e preservação da biodiversidade e natureza, no planeta terra finito.

Utiliza-se referencial bibliográfico sob revisão qualitativa, permitindo posicionamento crítico inerente ao Serviço Social e os sujeitos atendidos em situação de vulnerabilidade social, entregues à mercê da caridade burguesa e alienados do processo de produção capitalista, analisando-se em linhas gerais tais contradições sócio-históricas.

Contudo, compreende-se como fator principal, avaliar o funcionamento do neoliberalismo, e seu processo de acumulação, no sentido de generalização da pobreza, bem como sua criminalização no âmbito do Estado penal preestabelecido a nível nacional, configurando-se através do Serviço Social vigente, e a produção cultural em sociedade.

Portanto, compreende-se analisar o Serviço Social, bem como os rebatimentos para a profissão, imbricadas ao sistema capitalista neoliberal, produzindo relações sociais de exploração e uma permanente luta de classes e intensificação da desigualdade social, avaliando-se o provável poderio da cultura como alternativa para o despertar da classe trabalhadora, bem como em um amplo processo de desalienação, de luta por direitos sociais, em vista da emancipação humana.

Desta forma, o presente trabalho desenha-se numa problemática ao Serviço Social, bem como aos profissionais envolvidos neste processo intrínseco ao capital neoliberal, abordando-se possíveis formas de superação das bases atuais de exploração, em vista da organização da classe trabalhadora, em reivindicar direitos, bem como emancipar-se socialmente, e buscar seu pleno desenvolvimento de capacidades, em uma forma de sociedade justa a todos.

 

SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO

 

Compreende-se, analisar o Serviço Social enquanto profissão que atua na ampla defesa de direitos, bem como no enfrentamento entre as classes sociais engendradas ao Estado burguês, avaliando-se o significado da profissão, conforme indica Iamamoto, introduzindo-se no processo de produção e reprodução das relações sociais, envolvendo a questão do trabalho, questão social e do Serviço Social em tempos de financeirização do capital, abordando-se as competências profissionais neste ínterim, enquanto trabalhador assalariado pelo capital, bem como os desafios postos ao Serviço Social na dinâmica contemporânea.

 

 

O ponto de partida da análise é o de que a luta pela afirmação dos direitos é hoje também uma luta contra o capital, parte de um processo de acumulação de forças para uma forma de desenvolvimento social, que possa vir a contemplar o desenvolvimento de cada um e de todos os indivíduos sociais. Esses são, também, dilemas do Serviço Social. (IAMAMOTO, s\d, p. 1).

 

 

Todavia, a questão dos direitos sociais torna-se intrínsecas a atuação profissional do assistente social nos vários espaços sócio-ocupacionais, abrangendo as diversas competências profissionais inerentes ao cotidiano de atuação no cenário contemporâneo, devendo-se responder às demandas profissionais, numa perspectiva histórico-crítica, de acordo com Iamamoto.

Devendo-se afastar-se de concepções errôneas quanto ao discurso de neutralidade científica, adotando estratégias concretas frente a exploração de classes e as expressões da questão social, contudo, a eficácia no atendimento deve-se ser pré-requisito de trabalho do assistente social. “A competência é aí personificada no discurso do administrador burocrata, da autoridade fundada na hierarquia que dilui o poder sob a aparência de que não é exercido por ninguém. (IAMAMOTO, p. 2).

Entretanto, faz-se imprescindível a competência crítica, em desvendar o ideário conservador e tecnocrático abrangendo o discurso burocratizante, analisando-se a raiz dos problemas impostos pelo capital neoliberal, envolvendo estratégias de ação frente ao processo de exploração vigente. Desta forma, constata-se interpretar a gama de conhecimentos possíveis e existentes, construídos socialmente, compreendendo a vida social das classes, dotado de universalidade, e avaliando omissões e lacunas, segundo aponta Iamamoto.

Requerendo-se, um diálogo crítico de acordo com as bases incorporadas ao Serviço Social, bem como nas representações profissionais, abarcando a história da sociedade e de seu pensamento social, proporcionando um diálogo conciso entre teoria e história, redimensionando objetividade e conhecimento, sobressaindo-se a burocracia, e privilegiando o movimento histórico e da cultura. Contudo, a teoria expõe a expressão, envolvendo o campo do pensamento e do ser social, em suas relações e determinações, em busca do concreto pensado.

Apresenta-se com a produção intelectual herdada, de acordo com Iamamoto, de forma crítica, concomitante ao conhecimento acumulado. “Exige um profissional culturalmente versado e politicamente atento ao tempo histórico; atento para decifrar o não-dito. (IAMAMOTO, p. 3). Compreendendo-se o discurso do poder, abrangendo competência técnica e estratégica, bem como política e ética, direcionando o fazer profissional.

Avalia-se, no entanto, o movimento da própria realidade, decifrando suas mais variadas manifestações, incidindo na ação profissional, acionando-se pela vontade política dos sujeitos, abrangendo estratégias de ações entre o desejável e o possível, descartando o messianismo utópico, envolvendo posicionamentos individuais, necessitando-se da análise histórica do movimento real. “Numa visão “heroica” e ingênua das possibilidades revolucionárias do exercício profissional – quanto ao fatalismo, inspirado em análises que naturalizam a vida social e traduzido numa visão “perversa” da profissão”. (IAMAMOTO, p. 3).

Contudo, deve-se analisar a ordem do capital, bem como suas inerentes desigualdades, onde o assistente social encontra-se atrelado e explorado pelo sistema capitalista, tendo muito o que fazer diante de tal paradigma, devendo-se voltar-se a defesa do trabalho e dos trabalhadores, afeitos a um referencial acadêmico-profissional e social renovado, em lutar pela terra em seu acesso, bem como a produção dos meios de vida, visando democracia, liberdade, igualdade e justiça social no complexo histórico.

 

 

Nessa direção social, a luta pela afirmação dos direitos de cidadania, que reconheça as efetivas necessidades e interesses dos sujeitos sociais, é hoje fundamental como parte do processo de acumulação de forças em direção a uma forma de desenvolvimento social inclusiva para todos os indivíduos sociais. (IAMAMOTO, p. 4).

 

 

Correlaciona-se um amplo processo de renovação crítica, envolvendo lutar pelo processo de democratização do Brasil, com presença das lutas operárias, permeadas pela crise da ditadura militar, abrangendo a ditadura do grande capital, bem como engendradas com os movimentos políticos das classes sociais, em vista da elaboração da carta magna brasileira, ou seja, a Constituição Federal de 1988, abrangendo a implantação do Estado Democrático de Direito, onde, os assistentes sociais foram questionados, intensificando-se um amplo processo de ruptura com o tradicionalismo profissional e o viés conservador, condicionando-se preocupações emergentes  no âmbito do Serviço Social, exigindo-se respostas inovadoras, modificando-se os campos de ensino, pesquisa, regulamentações, bem como a organização político-corporativa dos assistentes sociais, conforme apresenta Iamamoto.

Nesta seara, o Serviço Social brasileiro elaborou um projeto profissional crítico e inovador, sob o viés do marxismo, abarcando perspectiva humanista de acordo com as características históricas brasileira, regulamentadas pelo código de ética do assistente social de (1993), lei de regulamentação da profissão de (1993), e diretrizes curriculares de (1996, 1997, 1999, 2001).

Todavia, os assistentes sociais trabalham diretamente com as expressões da questão social, expressando-se na vida dos indivíduos sociais, em diversos segmentos das classes subalternas, envolvendo luta de classes e relações de poder, bem como, as possíveis ações coletivas, em busca da ampliação e efetivação dos direitos sociais, cidadania e de implantação de políticas públicas, de acordo com Iamamoto.

 

 

Os espaços ocupacionais do assistente social têm lugar no Estado – nas esferas do poder executivo, legislativo e judiciário –, em empresas privadas capitalistas, em organizações da sociedade civil sem fins lucrativos e na assessoria a organizações e movimentos sociais. Esses distintos espaços são dotados de racionalidades e funções distintas na divisão social e técnica do trabalho, porquanto implicam relações sociais de natureza particular, capitaneadas por diferentes sujeitos sociais, que figuram como empregadores (o empresariado, o Estado, associações da sociedade civil e, especificamente, os trabalhadores). Elas condicionam o caráter do trabalho realizado (voltado ou não à lucratividade do capital), suas possibilidades e limites, assim como o significado social e efeitos na sociedade. Ora, as incidências do trabalho profissional na sociedade não dependem apenas da atuação isolada do assistente social, mas do conjunto das relações e condições sociais por meio das quais ele se realiza. (IAMAMOTO, s\d, p. 5).

 

 

Assim sendo, os assistentes sociais trabalham na formulação de políticas públicas, em vários espaços, como na área da saúde, educação, previdência, assistência social, habitação, meio ambiente, entre outros, no intento da defesa, efetivação e ampliação dos direitos sociais da população usuária dos serviços públicos. Ocorre-se, também, atuações na iniciativa privada, com repasse de serviços, benefícios, e organizando atividades relativas à produção, consumo e circulação de bens e serviços, trabalhando concomitantemente em processos de organização e formação política de movimentos dos trabalhadores.

 

NEOLIBERALISMO E AS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

 

O sistema neoliberal, de acordo com Souza (1995), pressupõe a globalização da economia, revolução científico-técnica, falência do Estado, eficiência do mercado e o fim da história, abrangendo dogmas desta forma de sistema, configurando uma concepção de mundo, sobretudo, através de visão ideológica.

 

 

É uma concepção ideológica que se constrói não a partir da realidade, mas apenas de alguns fragmentos da aparência dela. É muito mais expressão do desejo, da subjetividade, dos que a formularam do que da realidade. Porque está em curso uma crescente integração dos circuitos financeiros em âmbito internacional, os neoliberais afirmam que existe a globalização do conjunto da economia, quando, na verdade, o que há é a tentativa de redivisão do mundo e o reforço das fronteiras econômicas das áreas sob comando dos monopólios das grandes potências. (SOUZA, 1995, p. 7).

 

 

Nesse sentido, integram-se os circuitos financeiros internacionais, abrangendo, avanços nas ciências e tecnologias, ocorrendo a chamada revolução científico-técnica ou terceira revolução tecnológica e industrial, porém, ocorre-se a estagnação da economia mundial e o poderio dos monopólios, de acordo com Souza (1995).

Todavia, o discurso prevalecente envolve a falência do Estado, ao enfrentamento de imensas dificuldades financeiras. “Quando o que há é a mais pura e deslavada pilhagem do Estado pelos grupos monopolistas privados”. (SOUZA, p. 8). Com sua notável obsessão pela obtenção de lucros, em detrimento da classe trabalhadora.

Entretanto, acontece o agravamento das contradições do capitalismo mundial, demonstrando seu total esgotamento em sua ordem e modo de produção, configurando-se, uma ampla necessidade de sua superação através da organização do proletariado, em vista da emancipação humana.

Contudo, o mercado traduz-se como um Deus, capaz de resolver todos os problemas da sociedade, no entanto, ocorre-se o agravamento das expressões da questão social, onde impregna-se a ideia da construção de uma sociedade perfeita, entretanto, predomina-se a ação dos monopólios e o desaparecimento da sociedade, conforme discorre Souza (1995).

Entretanto, o neoliberalismo deve ser de condição efêmera, todavia, deixando inúmeros problemas sociais e alarmantes índices de criminalidade e naturalização da pobreza, condicionando os indivíduos a exclusão social, representando-se em uma ideologia frágil, praticando-se o tempo todo, o contrário do que determina, caindo numa frequente contradição intrínseca, própria de seu funcionamento e sistema, em defender inexoravelmente a classe burguesa, baseando-se na liberdade, e a violando constantemente, favorecendo o sistema capitalista atual. “Um sistema que tem de depender de uma ideologia como essa termina por escancarar na superfície a sua vulnerabilidade”. (SOUZA, p. 8).

Assim sendo, o neoliberalismo traduz-se em dogmas, propagados pela grande mídia mundial, convertendo-se em mitos, onde se desmancham, em forma de colapso como verifica-se atualmente, em mazelas predominantes e expressões da questão social alarmantes, com índices de criminalidade, desemprego estrutural, dependência química, violação de direitos e demais problemas inerentes a esta forma de sistema que degrada vidas humanas, biodiversidade e planeta terra finito, desconsiderando presentes e futuras gerações para possível sobrevivência em harmonia e paz social.

 

 

O chamado neoliberalismo não é uma teoria científica. Nem muito menos uma corrente de pensamento científico. Não chega também a ser uma doutrina. É uma ideologia – mais propriamente, é o elemento central da ideologia da oligarquia financeira que domina o mundo, na atual etapa do capitalismo. (SOUZA, 1995, p. 9).

 

 

Nesse sentido, toda forma de sociedade necessita de uma ideologia promovendo uma certa coesão social, representando a ideologia da classe dominante, com um reflexo deformado das condições socioeconômicas vigentes, conforme indica Souza (1995), mantendo-se através da coerção e da violência, como verifica-se em tempos atuais, instaurando-se ditaduras em vários locais e territórios mundo afora, podendo-se fazer germinar as revoluções proletárias e movimentos por ampliação de direitos sociais. Podendo-se subverter a ordem burguesa exploratória, afirmando-se o novo, de forma positiva a uma reconstrução social coletiva, assegurando-se uma nova era, com pleno desenvolvimento das capacidades humanas.

Conforme expõe Netto (1995), expressa-se uma crise global na sociedade contemporânea, com a decadência do Welfare State, conhecido como Estado de Bem Estar Social, simultaneamente ao colapso do socialismo real e das tentativas “terceiro-mundistas”, no tocante a superação do processo de subalternidade exigido pelo capital neoliberal, num circuito econômico e político global, conhecidamente apresentado como o fim da história, reformando o capitalismo e a ordem burguesa, potencializada com o neoliberalismo.

Sobretudo, nada parece definido e clarificado, numa conjuntura problemática, podendo-se ser vislumbrado a ultrapassagem da barbárie que se instaura na sociedade, de certa forma, com o reforço da mídia de massa, expressando-se em ampla regressão social, segundo Netto (1995), configurando-se através do neoliberalismo, envolvendo a crise da ordem do capital.

Todavia, abrange-se uma radicalidade crítica, engendrada a uma cultura política, envolvendo-se valores humanistas concretos, porém, destaca-se a crise do capitalismo em seu processo de acumulação, implicando-se, “a curva descrente da eficácia econômico-social da ordem do capital”. (NETTO, p. 69).

Indica-se que o Estado mínimo, ou máximo para o capital, de acordo com Netto (1995), trata-se de condições políticas, potencializando as tradicionais contradições da ordem do capital, onde o pensamento neoliberal converte-se num pensamento antidemocrático, ou seja, representa um projeto histórico próprio da burguesia, bem como, da direita, onde a grande burguesia monopolista e a oligarquia financeira, vivenciam índices elevados de acumulação de riquezas, bens e patrimônios.

Sobretudo, em virtude da concepção de mercado livre, desta forma, não se erradica os mecanismos reguladores da economia, envolvendo seus próprios interesses de classe burgueses, reduzindo os mínimos sociais a classe trabalhadora, criminalizando a pobreza, superlotando presídios, e elevando gritantemente as expressões da questão social.

 

 

O que desejam e pretendem, em face da crise contemporânea da ordem do capital, é erradicar mecanismos reguladores que contenham qualquer componente democrática de controle do movimento do capital. O que desejam e pretendem não é “reduzir a intervenção do Estado”, mas encontrar as condições ótimas (hoje só possíveis com o estreitamento das instituições democráticas) para direcioná-la segundo seus particulares interesses de classe. (NETTO, 1995, p. 81).

 

 

Portanto, a própria burguesia, patrocina tal tipo de formatação estatal, e de sua funcionalidade, segundo Netto (1995), em sua forma de pensamento neoliberal, configurando-se numa dinâmica ofensiva, frente aos trabalhadores e a construção de uma sociedade melhor, e que a proposta de Estado mínimo, viabiliza o que foi dificultado pelo progresso da democracia política, representando-se em Estado máximo para o capital.

Resultando-se, no agravamento da barbárie e da perversidade capitalista neoliberal, generalizando o desemprego, a ausência de renda, e as mais variadas mazelas e expressões da questão social, favorecendo o processo de acumulação, em detrimento do bem-estar social da sociedade.

 

CULTURA, REFORMA OU REVOLUÇÃO

 

No âmbito de uma abordagem histórica, em vista do funcionamento de uma nova democracia, de acordo com Machado (2020), formando-se um novo Estado, vinculando-se cultura e socialismo, portanto, cultura definindo-se como esfera, pensamento, estrutura de atividades e construção de consciência, organizadas por grupos intelectuais interligados a classe trabalhadora, todavia, pelas massas, em funções organizativas no processo de produção e no modo cultural, envolvendo-se organização e cultura, em busca de profunda compreensão do cenário político e econômico contemporâneo.

Desta forma, a cultura deve ser analisada em seu desenvolvimento, abrangendo enorme mobilidade, como autodisciplina, exercido coletivamente em sociedade e fundamentalmente ao proletariado, em vista da transformação social estrutural do modo de produção atual, compreende-se cultura como expressão da sociedade, envolvendo a noção de senso comum, engendrada nessa dinâmica, possuindo-se uma língua historicamente determinada, diferenciando-se entre locais, regiões, nacionalidades e territórios, de acordo com Machado (2020).

 

 

Cultura passa a ter o significado de unificação cultural do gênero humano. Por um lado, há a proposta de uma nova concepção de mundo relacionada com o desenvolvimento humano e o trabalho exercido pelo proletariado. Por outro lado, cultura é vista como uma religião laica -- a partir de uma cultura crítica e formação humanista. (MACHADO, 2020, p. 2).

 

 

Nesse sentido, configura-se uma filosofia envolvendo cultura e uma forma de ética, ou seja, abrangendo uma nova forma de viver e um comportamento cívico, não sendo possível ser realizado sob o capitalismo. Engendra-se totalidade e cultura hegemônica, abarcando o operário qualificado, instaurado por intelectuais, imbricando-se na produção e no modo cultural, necessitando-se de uma imperativa organização do proletariado, “como questão política, questão prática articulada e estruturada que organiza a vida humana e que seja organizadora da sociedade”. (MACHADO, p. 2).

Destarte, necessita-se erigir uma nova cultura, sob uma nova base social, criando-se uma cultura crítica, em vista da supressão das formas tradicionais de existência, entre cultura moderna e cultura popular, construindo-se um novo Estado, formando-se uma nova sociedade, determinando-se numa luta hegemônica da classe trabalhadora explorada. “O pensador coletivo deveria realizar uma luta cultural para transformar a mentalidade popular com a necessidade de um trabalho que envolva todos os homens, num movimento cultural, para um novo humanismo em nível internacional”. (MACHADO, p. 2).

Traduz-se linguagem em cultura, de forma internacional e interdisciplinar, relacionando pensamento e ação, e teoria e prática, transformando-se em filosofia da práxis, em busca de uma nova cultura, portanto, visa uma ação criativa e de se projetar um novo Estado, calcado pela participação popular, livre da exploração capitalista.

Envolvem-se, contudo, questões dialéticas, em pleno desenvolvimento das categorias essenciais as transformações, buscando-se a construção de uma cultura popular, envolto em uma reforma intelectual e moral, conforme defende Machado (2020), e de forma original em pensar num processo revolucionário e democrático, onde os intelectuais assumem papel preponderante em organizar e articular uma determinada revolução cultural, voltada à prática revolucionária, criando-se uma forma de cultura laica, tratando-se da transformação da sociedade e da construção de um novo Estado, instaurando-se uma chamada cultura forte, dos trabalhadores urbanos e rurais, “que permita às classes subalternas de se expressarem e se organizarem em torno de uma nova democracia”. (MACHADO, p. 3).

Contudo, determina-se tal cultura historicamente, e da atuação do intelectual em atuar na vida prática, organizando os aspectos da alta cultura do proletariado, democratizando o saber e do conhecimento em sociedade, abrangendo-se a hegemonia das classes subalternas, visando-se a construção de um novo Estado e de uma nova forma de democracia operária.

Nesse sentido, há uma relação intrínseca entre cultura e intelectualismo, no devido aproximar-se com a classe trabalhadora, dialogando com as massas, que estão organicamente interligadas, permitindo conhecer-se a si mesmo e seus semelhantes de classe, agindo coletivamente e criticamente perante o capital neoliberal, representando ponto central entre socialismo e cultura, apropriando-se da própria personalidade, conquistando uma consciência superior, compreendendo-se seu próprio valor histórico e função na vida, e abrangendo direitos e deveres em sociedade, de acordo com Machado (2020).

Portanto, sendo entendido como uma cultura marxista, por meio da reflexão crítica, abrangendo toda uma classe social, avaliando fatos e contradições impostas pelo capital, e os meios necessários para subvertê-los, em vista da reconstrução social, considerando-se o contexto histórico, propiciando uma cultura emancipadora, e uma constante formação crítica, penetrando-se culturalmente e através das ideias, onde, a própria cultura crítica organiza e orienta a classe trabalhadora rumo a vitória e a transformação social estrutural da sociedade.

Contudo, promove-se uma orientação de cultura socialista, com imperativo envolvimento da classe trabalhadora, em superar as formas atuais de opressão capitalista neoliberal, formando-se uma instituição proletária, criando-se um organismo através de suas forças e com sua boa vontade em melhorar o mundo, preservando vidas humanas, natureza e planeta terra, conforme indica Machado (2020).

Todavia, deve-se organizar locais de debate e estudos sobre as melhores formas de agir perante o capital, e sobre as questões pertinentes ao proletariado, possibilitando a tomada consciente de decisões, onde as classes subalternas reeducam-se, em círculos de cultura, produzindo-se uma nova vida social, engendrando-se socialismo, cultura e trabalho, bem como a auto-organização da classe trabalhadora, visando sua propagação de ideais.

Através de uma visão crítica, pode-se almejar uma nova forma de sociedade, de acordo com Machado (2020), de forma universal e coletiva, envolvendo-se a revolução socialista, determinando-se, pensamento, ideias, conectando causa e efeito, imperativamente de forma orgânica, em plena organização social dos trabalhadores em querer construir uma sociedade nova.

Sobretudo, considera-se as relações entre urbano e rural, aliando todos os trabalhadores em prol de uma nova forma de sociedade, devendo-se reduzir as prováveis distâncias culturais entre estes povos trabalhadores, constituindo-se numa base sólida e autêntica de transformação das bases estruturais atuais.

Entretanto, a questão fundamental que se aplica, trata-se da organização do proletariado, através de uma profunda reflexão crítica, em diálogo permanente com as forças produtivas, com tomada de consciência e de libertação da classe operária, sobretudo, sob a exploração do capital, com uma pujante crítica cultural socialista, engendrando-se a ideologia do Estado neoliberal burguês, com o apoio imprescindível da religião (igrejas), bem como da mídia de massa, “para criar o imaginário social do povo, um modo de pensar, de agir e de viver que é capaz de se expressar como um processo coordenado capaz de mobilizar multidões”. (MACHADO, p. 6).

Contudo, o caráter das reformas, envolve as condições de produção, bem como através da legislação, de acordo com Luxemburgo (2005), introduzindo-se ao controle coletivo, fortalecendo-se sindicatos, sobretudo, o processo de democratização do Estado, como meio de realização progressiva do socialismo.

Nesse sentido, o papel dos sindicatos é preponderante em avaliar as condições de trabalho dos proletários, de forma justa e com salário digno, de acordo com a conjuntura do mercado, segundo Luxemburgo (2005), entretanto, podem-se restringir de acordo com o grau de produtividade do trabalho, dificultando o trabalho dos sindicatos, principalmente na possibilidade de haver conchavos entre sindicatos patronais e dos trabalhadores, transformando-se em profundas formas de corrupção generalizada em detrimento dos trabalhadores.

Entretanto, deve-se suprimir todas as formas de exploração, em caminho para o socialismo, porém, o capitalista deseja a intensificação de sua produção e consequente lucro, aperfeiçoando técnica e ciência, no entanto, deprecia a força de trabalho, tornando-o mais intenso, pesado e monótono, de acordo com Luxemburgo (2005).

Nesse sentido, o caminho deve basear-se na emancipação dos trabalhadores, em concomitante progresso técnico, bem como das forças produtivas, porém, predomina-se os conhecidos cartéis, favorecendo alguns grupos de empresários, abrangendo-se uma luta entre força de trabalho e capital.

Representando-se num movimento reacionário, evitando-se a construção da emancipação dos trabalhadores, neste sentido, regulariza-se a exploração capitalista através dos sindicatos, de acordo com a situação do mercado, envolvendo-se o processo de produção, examinando-se setores amplos de desenvolvimento da sociedade.

Portanto, acrescenta-se dificuldades imanentes a tal abordagem, em vista da expansão do imperialismo e do mercado globalizado, precarizando, indubitavelmente, as relações de trabalho, reduzindo salários, e prejudicando progressivamente a qualidade de vida do trabalhador explorado.

Desta maneira, ampliasse os lucros do capital, determinando-se um Estado de classes, onde os interesses da burguesia são prevalecentes, portanto, os trabalhadores não são livres, e sim explorados pelo capital, segundo Luxemburgo (2005), implicando na produção de capital, onde as reformas encontram seus limites naturais, devendo-se expropriar-se os meios de produção pela classe trabalhadora, em busca de justiça social.

 

 

Foi a descoberta de pontos de apoio, nas condições econômicas da sociedade capitalista, para a realização do socialismo, a maior conquista da luta da classe proletária, no curso de seu desenvolvimento. Com isso, transformou-se o socialismo, de “ideal” sonhado pela humanidade há milhares de anos, em necessidade histórica. (LUXEMBURGO, 2005, p. 69).

 

 

Entretanto, a classe capitalista continua crescendo, de acordo com Luxemburgo (2005), diversificando sua produção, expande-se o sistema de sociedade por ações, socializando a crescente produção do capitalismo, em todas as proporções de produção, reunindo-se pequenas fortunas em um grande capital de produção.

Separando-se a produção da propriedade do capital, numa ampla base capitalista, ampliando-se a quantidade de capitalistas neste processo, socializando-se a categoria de capitalistas, “que passou a ser uma categoria social nos quadros da economia capitalista”, (LUXEMBURGO, p. 72). Necessitando-se suprimi-las como condição histórica de apropriação dos meios de produção pelo proletariado, eximindo-se as bases estruturais de exploração do homem pelo homem.

Devendo-se suprimir o capitalismo pelas massas populares, manifestada, sobretudo, pela anarquia capitalista, com suas intrínsecas crises e inúmeros problemas sociais, inerentes ao seu modo de produção, ocasionando, possivelmente seus desmoronamentos, avaliando-se as questões do trabalho social.

Nesse sentido, o trabalho humano transforma-se em dinheiro, exclusividade da economia vulgar burguesa, segundo Luxemburgo (2005), envolvendo a construção do espírito, algo em que, o dinheiro também é coisa útil, nesta dinâmica social, abrangendo economia capitalista como fenômeno histórico, vislumbrando um futuro socialista.

Contudo, a análise do dinheiro, a teoria do capital, a taxa de lucro, bem como todo o sistema econômico atual, encontra-se em sentido transitório na economia capitalista, com vistas ao seu próprio desmoronamento, conforme apresenta Luxemburgo (2005), abarcando a finalidade socialista.

Compreendendo-se de forma científica a sociedade burguesa, do ponto de vista socialista, torna-se imprescindível, dando-lhe estrutura científica de prospecção, nesse sentido, trata-se de analisar os antagonismos de classe no seio do regime capitalista, de acordo com Luxemburgo (2005), constatando-se a exploração do capital perante o proletariado, bem como suas inerentes crises, que sobremaneira, intensificam as expressões da questão social.

 

CONCLUSÃO

 

Com a elaboração do presente texto, pretende-se problematizar a questão da exploração do capital neoliberal, bem como seus rebatimentos negativos a sociedade, representado em objeto de trabalho do assistente social, em atuar mediando as expressões da questão social, em vista da garantia de direitos a população em situação de vulnerabilidade social.

Todavia, apresenta-se o trabalho do assistente social, enquanto profissão inserida através da exploração de classe, necessitando-se de profunda reflexão sobre a atuação profissional frente às demandas das classes subalternas, afastando-se de concepções messiânicas e utópicas. Contudo, o assistente social deve ressaltar a importância da ética profissional, e dos direitos e deveres a serem executados no labor cotidiano, no fazer profissional, nas perseguições e possíveis assédios sofridos nos diversos espaços sócio-ocupacionais, que prejudicam a saúde de vários profissionais do Serviço Social.

Todavia, avalia-se as condições impostas pelo neoliberalismo, e sua ofensiva maçante ao proletariado, sendo máximo para o capital e mínimo para o trabalhador, fundamentando-se em dogmas de uma classe burguesa que permanece no poder estrutural da sociedade, e dita as regras a serem seguidas, causando imensos problemas sociais e a expansão da violência em sociedade. Neste sentido, compreende-se o aspecto cultural enquanto forma essencial de organização da classe trabalhadora em vista da possível transformação social, aprofundamento da social-democracia e Estado Democrático de Direito, encaminhando-se para uma sociedade socialista\comunista, proporcionando-se o pleno desenvolvimento das capacidades humanas.

Entretanto, destaca-se o papel dos intelectuais em se organizarem junto às classes populares, de forma socioeducativa, numa completa conexão e troca de saberes e conhecimento, imprescindíveis à união coletiva em busca da transformação social, decidindo-se entre reformas ou revolução.

Enfim, é neste campo minado que o assistente social trabalha, com uma excessiva demanda, e uma ferrenha exploração, necessitando-se de uma forma sub-humana para resistir as incansáveis tentativas possíveis de cooptação burguesa neoliberal, e permanecer na luta por direitos sociais e sua ampliação, bem como no processo de construção de políticas públicas, atuando de forma crítica conforme determina o código de ética profissional, sem se esquecer que o assistente social pertence à classe trabalhadora, sendo explorado como qualquer trabalhador na ótica capitalista neoliberal, e deve-se permanecer na luta contínua pela transformação social.

 

REFERÊNCIAS

 

IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na cena contemporânea. Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais. (s\d).

 

LUXEMBURGO, R. Reforma ou Revolução? 4ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2005.

 

MACHADO, M. G. B. A importância da cultura crítica na construção de um novo Estado. Revista de Ciências do Estado. Belo Horizonte: v. 5, n. 1. 2020.

 

NETTO, J. P. Crise do socialismo e ofensiva neoliberal. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1995.

 

SOUZA, N. A. O Colapso do neoliberalismo. São Paulo: Global, 1995.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

“BOÇALNARISMO”, MARÇALISMO E A DECADÊNCIA DA POLÍTICA

EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI

Deus, Pátria, Família e Liberdade