GESTÃO E CONTROLE SOCIAL: A emancipação é possível?

 

GESTÃO E CONTROLE SOCIAL: A emancipação é possível?

LUIZ HENRIQUE MICHELATO

http://lattes.cnpq.br/4337020765052211 - https://www.amazon.com/author/luizhenriquemichelato

RESUMO

Considero relevante tal avaliação, visto que, necessitamos ampliar os espaços de discussão que envolvam políticas públicas e que vise a superação da atual forma de sociedade, o trabalho deve ser intersetorial, coletivista e participativo, respeitando todas as formas de convivência, valores e crenças, objetivando a supressão da sistemática contemporânea, utilizo para a compreensão e desenvolvimento do trabalho, pesquisa bibliográfica e experiência acadêmica e profissional. Propor projetos que promovam a ampliação dos espaços de debate e que possam atrair a população que sofre com os rebatimentos das expressões da questão social. Abordar aspectos culturais e socioeconômicos são fundamentais neste processo, análise estrutural da sociedade, exclusão e desigualdade social, violação de direitos, pauperismo, sucateamento da esfera estatal, precarização das condições de trabalho, assistencialismo e negligência, democracia e direitos humanos, liberdade de expressão, formatado através de um viés ideológico materialista histórico dialético, estado neoliberal e questão social emergente. Projetos sociais que visem a participação da comunidade e que promova de fato o chamado controle social e que seja ampliado os espaços de discussão.

Palavras-chave: Gestão Social. Controle Social. Emancipação. Democracia. Violação de Direitos

1  INTRODUÇÃO

A ideia da proposta é de responder de forma consistente e satisfatória as expressões da questão social descobrindo alternativas e estratégias que faça com que a sociedade de forma geral tenha senso crítico para analisar o funcionamento do que se vivencia no cotidiano. Considero extremamente relevante que a sociedade se supere e se fortaleça enquanto classe social explorada e oprimida, demonstrando conhecimento acerca do sistema contemporâneo.

A implantação de projetos sociais junto a classe social oprimida pode fomentar esta proposta vista por alguns reacionários e conservadores como algo utópico, entretanto necessitamos acreditar na mudança e na transformação social nem que seja o último suspiro em nossas vidas enquanto trabalhadores que atuam diretamente com a miséria e a desigualdade iminente e pujante em nosso país.

Tenho noção de que abordar tal tema não seja tarefa simples, porém acreditar na mudança me fortalece e me faz lutar cotidianamente contra a precarização das condições de trabalho e a ofensiva neoliberal que desregulamenta direitos sociais conquistados historicamente. A sociedade civil deve inexoravelmente mobilizar-se em prol do bem comum.

Procurei com o trabalho levantar aspectos que considero relevantes em busca de uma gestão social organizada, coletiva e democrática, livre de hierarquias e que proceda de acordo com as demandas da sociedade e fundamentalmente com a classe em situação de vulnerabilidade social que sofre constantemente com a violação de direitos, e que execute de fato o controle social, extremamente importante neste processo. 

2  gestão social

Gestão Social é um termo que frequentemente vem sendo explorado no âmbito do Estado no que concerne a projetos e propostas relativas a sociedade, e suas formas de intervenção podem variar de acordo com os objetivos pré-estabelecidos.

A gestão social pode abranger duas formas de abordagem que se vinculam ao campo organizacional e societário, a análise de fatores econômicos, sociais e políticos são inexoráveis neste processo. Gestão social é algo que vem ganhando grande visibilidade ultimamente e pode relacionar-se a ações governamentais, não governamentais, fundações, associações e até mesmo ao setor privado situando questões de cidadania e responsabilidade social.

O termo gestão social, segundo, (França Filho, 2007) vem sendo banalizado em sua terminologia recebendo várias formas interpretativas, no entanto envolve também aspectos relativos ao terceiro setor em emergência na sociedade. O termo gestão pode caracterizar-se em conceitos de planejamento, organização, direção e controle.

Gestão social é algo que envolve pessoas, é elaborado através da interação entre elas, predispõem habilidades e conhecimentos, e necessariamente comprometimento das pessoas envolvidas no processo. A capacidade técnica individual do gestor torna-se importantíssima neste campo de atuação, assim como sua competência relacional com os demais atores envolvidos.

É importante considerar duas formas de análise de gestão, uma concernente a nível societário e a outra a nível organizacional. O termo gestão social agrega-se a demandas da sociedade e ao processo de exclusão inerente ao sistema econômico atual, o econômico e o universo do trabalho passa a determinar as identidades individuais e coletivas na sociedade contemporânea.

Segundo (França Filho, 2007) a gestão social pode ser confundida com gestão pública e implantação de políticas públicas atendendo a necessidades da sociedade, porem a ideia de sociedade civil organizada passa a expandir-se, de forma associativa, fazendo frente ao Estado e as expressões da questão social. Existe a concepção de auto-organização social que deve ser ressaltada, visando ampliação do processo democrático.

O nível organizacional pode ser elaborado de forma micro ou meso, seguindo determinada orientação pode-se pensa-la, abrangendo racionalidade e lógicas instrumentais, sociais, políticas, culturais ou ecológicas, definindo o processo de gestão. Destarte, a gestão social diferencia-se da gestão privada e da gestão pública.

A gestão privada, segundo (França Filho, 2007) possui aparato técnico-metodológico avançado em vista de outras formas de gestão, pelo fato de seus estudos serem elaborados a mais de um século e servirem como referência para as demais formas de gestão, este processo pode ser explanado como “etnocentrismo gestionário privado”. Consequentemente o que predomina nesta forma de gestão é o fator econômico.

A gestão pública ocorre nas instituições públicas no âmbito do Estado, sua função pode ser democrática, tecnoburocrática ou clientelista, dependendo de qual postura ideológica executa-se.

A gestão social pode funcionar em uma dinâmica entre mercado e Estado organizando parcerias para a elaboração de projetos, o papel da sociedade civil neste processo implica formas de atuação consistentes, objetivos econômicos são considerados praticamente inexistentes. É esta inversão entre público e privado que gera desafios a uma gestão social democrática e eficaz.

O econômico aparece apenas como um meio para a realização dos fins sociais, que podem definir-se também em termos culturais (de promoção, resgate ou afirmação identitária etc.), políticos (no plano de uma luta por direitos etc.) ou ecológicos (em termos de preservação e educação ambiental etc.), a depender do campo de atuação da organização. (FRANÇA FILHO, 2007, p. 5).

A operacionalização da gestão social é algo desafiador, visto que os estudos acerca de sua práxis vem sendo amplamente desenvolvido pelo meio acadêmico recentemente, suas metodologias são elaboradas por grupos que se envolvem com a causa em si e que organizam seminários e encontros para discutir e socializar as informações relacionadas ao assunto.

Com a mínima produção teórico-metodológica e articulação entre os grupos, o que consequentemente surge são gestões extremamente gerenciais do ponto de vista técnico, proporcionando projetos medíocres não atendendo desta forma uma gestão social democrática que alcance resultados satisfatórios ao foco que se deve objetivar.

Um posicionamento ético, transparente e democrático deve ser adotado para se desenvolver uma gestão social coerente a seus princípios, clientelismo e assistencialismo devem ser abolidos, e isto fatalmente gera mais um desafio para a gestão social.  

Descompromisso com o social, tradicionalismo e conservadorismo político, são os principais fatores a serem superados no âmbito da gestão social, imprescindivelmente uma abordagem crítica deve prevalecer neste processo. Gestão social envolve práticas no âmbito do Estado e questões públicas. “A gestão social supõe antes de tudo uma ação política das organizações no sentido de atuarem ou agirem num espaço público”. (França Filho, 2007, p. 6).

O político não pode ser reduzido ao governamental e mercadológico, o que pode ser colocado é a redistribuição e a reciprocidade, ou seja, uma outra forma de economia. Fatores econômicos e sociais devem ser compactuados visando cidadania e democracia plena.

A gestão social na contemporaneidade indubitavelmente deve assumir um caráter que vise uma sociedade justa e igualitária, as relações entre gestão social e serviço social são estreitas desde a década de 1930. A gestão social converte-se em algo relevantíssimo quando diz respeito a questão social, proteção social, seguridade social e bem-estar social.

Trabalhadores intelectuais que somos, intelectuais da área de humanidades, intelectuais dirigentes da vida social, o social é para nós o substantivo, no sentido de que ocupa nossas agendas, o nosso tempo e consome nossas energias. (ALVES DA SILVA, 2013, P. 212).

A lei 8662/93 que regulamenta a profissão de assistente social no Brasil estabelece que este profissional pode atuar como gestor de políticas sociais. Uma das principais reflexões acerca da gestão social na contemporaneidade baseia-se sobre um viés crítico rompendo com o modo dominante de pensar a sociedade, a busca por estratégias e alternativas humanistas deve prevalecer neste ínterim, afastando-se de projetos conservadores tradicionalistas e aproximando-se de um projeto societário amparado em valores democráticos.

O conceito de gestão social é definido segundo a assistente social Marilene Maia (2005) da seguinte forma:

... compreendemos a gestão social como um conjunto de processos sociais com potencial viabilizador do desenvolvimento societário emancipatório e
transformador. É fundada nos valores, práticas e formação da democracia e da cidadania, em vista do enfrentamento às expressões da questão social, da garantia dos direitos humanos universais e da afirmação dos interesses e espaços públicos como padrões de uma nova civilidade. Construção realizada em pactuação democrática, nos âmbitos local, nacional e mundial; entre os agentes das esferas da sociedade civil, sociedade política e da economia, com efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de distribuição das riquezas e do poder. Estes referenciais apontam a práxis da gestão social, enquanto mediação para a cidadania, que se contrapõe à perspectiva instrumental e mercantil que vem sendo dada a este tema (...) o Serviço Social constitui-se em mediação importante para a afirmação da práxis da gestão social, especialmente pelo conjunto de compromissos e referenciais ético-políticos, teórico-metodológicos e técnico-operativos, que objetivam a afirmação dos valores da cidadania, democracia e justiça social, tanto quanto a gestão social. Além disso, os profissionais dessa área acumulam competências e habilidades importantes no sentido de desvelar e atuar junto à realidade social e à população, que se constitui na centralidade do processo da gestão social”.

É importante ressaltar que o termo gestão social ganha força a partir da década de 1990, “A gestão social passa a ser enfatizada em um particular contexto histórico de implantação da estratégia neoliberal no mundo todo, a partir das diretrizes do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial”. (ALVES DA SILVA, 2013, P. 214).

No Brasil a gestão social envolve-se com o chamado terceiro setor, ao voluntariado, ao mercado e as organizações da sociedade civil, num contexto de remodelação neoliberal em que se prioriza a concepção de Estado mínimo ao proletariado e máximo ao capital.

Parcerias foram estabelecidas entre sociedade civil, Estado e empresariado, fomentou-se a questão das privatizações neste período. “E foi se impondo o conceito de público, não necessariamente estatal”. ”. (ALVES DA SILVA, 2013, P. 214). É necessário pensarmos a sociedade com senso coletivo e humano, a riqueza deve ser articulada visando o coletivo.

As últimas reformas da previdência social aconteceram no período de ofensiva neoliberal, da concepção de Estado mínimo, de favorecimento ao mercado e privatizações constantes. O Estado articula a gestão social junto aos ditames estatal-privado com cunho privatizante ou semi-privatizante da esfera pública.

Na estratégia de responsabilidade social corporativa notabilizou-se o chamado marketing social com a intenção de se ampliar as taxas de lucro, os fins sociais na verdade são puramente fins econômicos, sobretudo assumindo um discurso de boa ideia e bom sentimento referente a um logotipo ou logomarca da empresa.

“ Portanto, a gestão social ganha força sob um clima retórico e fático de desobrigação do Estado. Desobrigação que acontece aqui e ali na forma de terceirizações, parcerias, modelos híbridos ou mistos de gestão social, mediante um processo incrementalista de privatização”. (ALVES DA SILVA, 2013, P. 215).

Na área da educação o processo de privatização e mercantilização vem acontecendo há tempos, na área da saúde vem acontecendo o mesmo processo, porem sendo mais recente, entretanto, na área da assistência social vem ocorrendo o inverso pelo fato do reconhecimento enquanto política pública de direito do cidadão e dever do Estado principalmente no que concerne ao planejamento e financiamento da política de assistência social.

Devemos estar atentos a critérios e possíveis armadilhas no decorrer deste processo com relação ao caráter solidário que pode se dar a esta política sendo subserviente a crise capitalista inerente ao seu próprio funcionamento, devemos fortalecer o movimento junto a classe em situação de vulnerabilidade social.

“Como na música dos Titãs, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. ” É a acepção mais ampla de riqueza: eu quero pertencer, quero participar, quero ter acesso à riqueza material, mas quero ter acesso à cultura, ao lazer, às crenças, aos valores”. (ALVES DA SILVA, 2013, P. 217).

A gestão social vincula-se a reprodução da vida social respondendo as exigências da esfera da produção, objetivando bens e serviços contrariando de certa forma a lógica mercantil. A gestão social sob a responsabilidade do Estado assume o objetivo de atender as demandas coletivas e o interesse público, visando o acesso a direitos sociais e a cidadania, a multidisciplinariedade, a intersetorialidade e o conceito de território devem estar articulados focalizando bem-estar social e qualidade de vida.

“Então, a gestão social põe em questão a lógica mercantil, pois se desenvolve na esfera de um consumo social. No caso da Assistência Social, independentemente de contribuição prévia, até porque os usuários dos serviços podem estar fora do mercado de trabalho, não do mercado de consumo, mas do mercado de trabalho. Ou podem estar precariamente inseridos no mercado de trabalho”. ”. (ALVES DA SILVA, 2013, P. 217).

Gestão social envolve caráter público, questões públicas, com responsabilidade do Estado, prevendo acesso a direitos sociais e cidadania, isto significa lutar contra a pobreza e a desigualdade social. A gestão social necessita de recursos advindos do fundo público. “No contexto da crise, impõe-se o paradoxo: ampliam-se as demandas sociais, mas esvanece à vontade política de equacioná-las e reduz-se a disponibilidade de recursos para as políticas sociais”. (ALVES DA SILVA, 2013, P. 219).

O desafio continua sendo as expressões da questão social, a desigualdade social, o desemprego, a fome, a miséria, a falta de renda, e elaborar estratégias para responder a estas demandas são fundamentais a gestão social. O conflito entre política e economia é algo constante. “ Vivemos sob a ditadura do mercado financeiro, do capital financeiro e da privatização do público”. (ALVES DA SILVA, 2013, P. 220).

“ E nós, gestores sociais, nos colocamos diante desse contexto perverso, em que se garante a apropriação de ganhos pelos banqueiros e pelos executivos das grandes instituições financeiras, quando o sistema financeiro quebra, aqui e ali, mas recebe a chamada injeção de liquidez com recursos públicos. Quem paga a conta é o contribuinte, é o trabalhador, é o consumidor, é a população em geral. É um contexto perverso, em que se apropriam ganhos e riqueza e, por outro lado, se socializam as perdas”. (ALVES DA SILVA, 2013, P. 220).

No Brasil com um PIB – Produto Interno Bruto irrisório, ainda mantem demagogicamente um discurso de desenvolvimento com inclusão social concordando com a desigualdade social. Cabe destacar a NOB – SUAS, norma operacional básica de 2012, pronta para atender o cidadão de forma satisfatória.

O trabalho do gestor social é estabelecido por demandas, abrangendo fatores políticos, organizando-se sob a ótica do Estado. “ Educação como bem coletivo, saúde integral, cobertura previdenciária ampliada, garantia de renda, assistência social qualificada e resolutiva, habitação como direito social básico, cidadania da mulher não reduzida à maternidade, crianças e adolescentes como titulares de direitos, idosos respeitados e valorizados em sua seniority, acesso e apropriação da cidade como direito de todos, terra para quem nela trabalha, meio ambiente como bem coletivo e sustentável e que pertence também às próximas gerações”. (ALVES DA SILVA, 2013, P. 221).

                            A ideia de gestão social vem sendo desenvolvida nas últimas décadas mobilizada através do Estado procurando atuar diretamente com a questão social, implantando políticas públicas, evidencia-se a presença do Estado mínimo neste processo formulando políticas sociais e paralelamente flexibilizando as relações de trabalho, tal postura está relacionada majoritariamente com uma forma de gestão estratégica do que com uma forma solidária e democrática de gestão.

A visão de cidadania é o que deve predominar atualmente para que uma gestão coerente seja implantada, exigindo de fato do Estado que os direitos vigentes sejam exigidos em benefício da coletividade. “Essa
epistemologia tem mais compromisso com as questões intersubjetivas do que
com as individuais e permite inferir que o discurso e a prática da gestão social
têm-se pautado pela lógica de mercado, da gestão estratégica, e não por questões de natureza social”. A gestão estratégica visa o adversário e o setor privado, a gestão social deve almejar o bem comum. (TENÓRIO, 1998, p. 8).

A investigação da realidade é fundamental em todo processo de uma autêntica gestão social, a práxis social e política sendo fatores imprescindíveis em todo o desenvolvimento da gestão visando a superação da forma atual de se faze-la, proporcionando uma práxis social reflexiva e uma práxis política questionadora dos padrões atuais de produção.

Ação estratégica e ação comunicativa determinarão os conceitos de gestão estratégica e gestão social. Na forma de gestão estratégica uma pessoa se sobrepõe a outra e concomitantemente o Estado se sobressai perante a sociedade, predomina a hierarquia e a tecnocracia, comuns as sociedades contemporâneas.

A gestão social distingue-se da gestão estratégica com relação a forma coletiva e participativa de se articular, pressupõe princípios comunicativos, a harmonia entre os agentes deve prevalecer, a discussão entre os membros torna-se necessária, com argumentação e bom senso predominantes, a razão é algo preponderante.

No processo de gestão social, acorde com o agir comunicativo, dialógico, a verdade só existe se todos os participantes da ação social admitem sua validade, isto é, verdade é a promessa de consenso racional, ou a verdade não é uma relação entre o indivíduo e a sua percepção do mundo, mas sim um acordo alcançado por meio da discussão crítica, da apreciação intersubjetiva. Enquanto no processo de gestão estratégica, harmônico com o agir estratégico, monológico, uma pessoa atua sobre outra(s) para influenciar a continuação intencional de uma interação (neste tipo de ação a linguagem é utilizada apenas como meio para transmitir informações), sob uma ação comunicativa, dialógica, um indivíduo procura motivar racionalmente outro(s) para que este concorde com sua proposição (neste tipo de ação a linguagem atua como uma fonte de integração social). (TENÓRIO, 1998, p. 17).

 A gestão social deve estar estreitamente ligada ao conceito de cidadania, como uma ação política deliberativa, visto que o ideal é a participação do indivíduo em um processo democrático. “Ou seja, sua autodeterminação não se dá sob a lógica do mercado, mas da democracia social: igualdade política
e decisória”. (TENÓRIO, 1998, p. 19).

A ideia é de que o trabalhador tenha total noção das suas condições atuais e consciência reivindicativa juntamente com capacidade de opinião, a gestão social deve prever que o indivíduo tenha ciência de seu papel enquanto sujeito social tendo discernimento acerca de sua função na sociedade, neste ínterim surge o terceiro setor como alternativa organizacional a sociedade civil.

O terceiro setor surge como alternativa para superar os problemas da sociedade. “O desempenho gerencial esperado dessas organizações é o de gestão social em vez de estratégica, a fim de neutralizar as consequências não desejadas do mercado”. (TENÓRIO, 1998, p. 20).

As organizações do terceiro setor são incapazes de atender de forma satisfatória toda a demanda das crises do sistema capitalista, a mínima implantação de políticas públicas e a escassez de recursos financeiros gera competitividade entre as organizações do terceiro setor, pois elas recorrem ao primeiro setor (setor público) e ao segundo setor (setor privado) para obter recursos, algo que pode ocasionar afastamento perante as questões sociais.

O exercício da cidadania e o sujeito autônomo reconhecedor de direitos é o que deve ser privilegiado em uma gestão social consolidada e coerente com princípios éticos e morais, mecanismos de mercado devem ser abolidos nesta forma de gestão democrática, a subordinação a lógica do mercado gera a forma de pensar “adversaria” e não a “política do bem comum”.

O trabalhador não pode ser visto somente como um dado estatístico ou um recurso dentro do sistema, podendo ocorrer também no terceiro setor.

“É possível reverter este entendimento e significado da gestão social?
Um dos elementos conceituais possíveis é aquele apontado pela teoria crítica
frankfurtiana, especificamente da proposta teórico-social habermasiana, de
reconstrução do conhecimento de maneira intersubjetiva, aceitando necessariamente que o conhecimento e a decisão são um produto social e não exclusivamente originado da onisciência acadêmica, bem como daquela praticada pela tecnocracia quer nas relações trabalho-capital, quer na interação sociedade-Estado”. (TENÓRIO, 1998, p. 21).

O cidadão não pode ser visto como cliente ou alvo, mas sim como participante ativo nas tomadas de decisões e no processo de elaboração de políticas públicas, a identificação do problema o planejamento e o acompanhamento devem ser executados.

“O fundamento epistemológico da gestão social deve ser oposto àquele da
teoria tradicional, enfoque teórico que fundamenta a gestão estratégica - monológica -, como os sistemas-empresa estão para o mercado. Ao contrário, a base epistemológica da gestão social deve ser a intersubjetividade - dialogicidade -, como a política, como o bem comum, contemplando o envolvimento da cidadania no espaço público e do trabalhador no espaço privado. Assim, gestão social é o processo intersubjetivo que preside a ação da cidadania tanto na esfera privada quanto na esfera pública”. (TENÓRIO, 1998, p. 22).

2.1   controle social

Podemos definir como a participação da sociedade no tocante a formulação de políticas públicas no âmbito do Estado. Aprofundar a democracia e a cidadania é algo preponderante neste processo. Desde a década de 1970 a sociedade busca aprofundar questões relativas aos direitos sociais junto ao Estado Burguês, tal movimento engloba o processo de democratização no país e enfatiza o chamado controle social.

Entendemos como controle social uma forma compartilhada de gestão entre Estado e sociedade no tocante a políticas públicas. “Trata-se da capacidade que a sociedade tem de intervir nas políticas públicas”. (Boletim Instituto Pólis, 2008, p. 1). A sociedade passa a interagir nos processos de decisões independente da esfera abrangida.

“O controle social pode ser realizado tanto no momento da definição das políticas a serem implementadas, quanto no momento da fiscalização, do acompanhamento e da avaliação das condições de gestão, execução das ações e aplicação dos recursos financeiros destinados à implementação de uma política pública”. (Boletim Instituto Pólis, 2008, p. 1).

O direito a participação da sociedade neste processo está garantido na Constituição de 1988 e regulamentado na LOS – Lei Orgânica de Saúde, no ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS e no Estatuto das Cidades, o controle social ainda pode ser exercido fora do âmbito institucional acompanhando as políticas públicas em todos os níveis da federação.

É extremamente importante que o controle social seja efetivado garantindo de fato que as políticas públicas atendam satisfatoriamente a população usuária dos serviços e também atuem no processo de fiscalização e aplicação dos recursos públicos, isto fortalece as políticas públicas tornando-as mais eficientes e atendendo coerentemente as demandas da sociedade, consequentemente os resultados obtidos são melhores a população usuária dos serviços públicos.

O controle social favorece a democratização da gestão pública, o gestor deve se apoiar fundamentalmente a participação da população, dialogar e refletir acerca do tema a ser abordado, analisar as demandas existentes no território, na comunidade, o importante é entender as diferenças. Outro espaço de discussão que pode beneficiar a sociedade são os conselhos de direitos, onde a população pode escolher e deliberar o que considera mais importante e atenda a seus interesses.

O controle social pode ser exercido junto as conferências, nos conselhos de direitos e nos orçamentos participativos, são espaços de discussão e diálogo entre sociedade civil e governo.

“Os conselhos gestores de políticas públicas são instrumentos fundamentais de controle social das políticas setoriais nos níveis municipal, estadual
e federal, previstos em lei. A eles compete deliberar políticas e aprovar planos, fiscalizar as ações e a utilização dos recursos, aprovar ou rejeitar a
prestação de contas feita pelo poder público e emitir normas”.
(Boletim Instituto Pólis, 2008, p. 2).

A existência dos conselhos está garantida em lei, porém os orçamentos participativos e os grupos de trabalho dependem da vontade política dos governantes que sua implementação seja efetivada. A participação da sociedade em associações, ONGs, movimentos sociais, entre outros, torna-se fundamental neste processo, estes espaços servem como locais de discussão e diálogo, com as propostas a serem apresentadas junto a esfera pública, outro fator preponderante neste processo é a mobilização junto ao ministério público, informando sobre algo que está sendo negligenciado ou violado pelas instituições públicas.

Superar a cultura de uma política autoritária deve se concretizar, algo que historicamente está enraizado no Brasil. “Muitos governos concordam, em princípio, com a participação, mas, na prática, agem sem levá-la em conta”. (Boletim Instituto Pólis, 2008, p. 3). O mesmo se encaixa a população que espera soluções de um líder sem se quer ter envolvimento com as questões pertinentes a elas mesmas.

É necessário também superar toda e qualquer forma de desigualdade independente de qual âmbito se relaciona, o tratamento deve ser responsável e o respeito deve prevalecer para que a população possa ter interesse em participar do processo de tomada de decisão, a linguagem deve ser facilitada para que haja participação da sociedade, assim como o acesso a estas instâncias devem ser facilitados, a negligência destes fatores gera de tal forma exclusão.

A transparência e a aliança entre governo e sociedade devem predominar, a socialização das informações é imprescindível neste processo.

“Falta ainda um maior reconhecimento de que o controle social é um direito de todos em uma sociedade verdadeiramente democrática. Para além do momento das eleições, a participação da sociedade deve ser perseguida e garantida, a fim de que haja espaço para a explicitação de conflitos e negociação entre os diversos segmentos da sociedade e governo, e que se garanta direitos, superando as desigualdades”. (Boletim Instituto Pólis, 2008, p. 3).

É importante discutir as prioridades e as demandas principais, conhecer as leis e as políticas públicas, e entender que o processo de aprendizado é contínuo e frequente, a pressão deve ser feita para que se amplie os espaços de discussão de políticas públicas, e em casos de omissão o ministério público deve ser acionado.

O governo deve reconhecer seu papel, do controle social e das políticas públicas nesta gama de conhecimentos e perspectivas, o governo deve capacitar seus profissionais para que haja de fato comprometimento com a população usuária, procurar desenvolver espaços de discussão sobre as políticas econômicas em nosso país é outro desafio a ser superado atualmente, o Estado deve garantir capacitação frequente dos conselheiros e dos funcionários envolvidos. O poder público deve aprimorar e ampliar os espaços relacionados aos recursos públicos e seus orçamentos, a transparência das informações deve acontecer e ser transmitida e socializada a sociedade.

2.1.1    Emancipação

“Emancipação significa o ato de tornar livre ou independente. Em Filosofia, a emancipação é a luta das minorias pelos seus direitos de igualdade ou pelos seus direitos políticos enquanto cidadãos”. (http://www.significados.com.br/).

“O conceito de emancipação política foi abordado por Karl Marx em um ensaio publicado em 1844 sobre a “questão judaica” na Alemanha daquela época. Para Marx, a emancipação política do judeu ou do cristão estava relacionada com a emancipação do Estado do judaísmo, do cristianismo ou de qualquer religião”. (http://www.significados.com.br/).

O fator racionalidade instrumental é considerado como inibidor da emancipação humana, preferencialmente nos espaços culturais onde a indústria cultural propicia tal feito. “Habermas, da segunda geração frankfurtiana, concorda que a razão instrumental dificulta a autonomia social dos indivíduos, na medida em que
o mundo da vida, substância estruturante da razão da pessoa, é submetido à
razão funcional através de ações estratégicas”. (TENÓRIO, 1998, p. 11). A comunicação é um fator preponderante neste processo.

“A intenção é propor uma teoria que livre o homem dos dogmatismos e que contribua para sua emancipação”. (TENÓRIO, 1998, p. 12).

2.1.1.1   Democracia

“Democracia é a forma de governo em que a soberania é exercida pelo povo. A palavra democracia tem origem no grego demokratía que é composta por demos (que significa povo) e kratos (que significa poder). Neste sistema político, o poder é exercido pelo povo através do sufrágio universal”. (http://www.significados.com.br/).

“É um regime de governo em que todas as importantes decisões políticas estão com o povo, que elegem seus representantes por meio do voto. É um regime de governo que pode existir no sistema presidencialista, onde o presidente é o maior representante do povo, ou no sistema parlamentarista, onde existe o presidente eleito pelo povo e o primeiro ministro que toma as principais decisões políticas. Democracia é um regime de governo que pode existir também, no sistema republicano, ou no sistema monárquico, onde há a indicação do primeiro ministro que realmente governa. A democracia tem princípios que protegem a liberdade humana e baseia-se no governo da maioria, associado aos direitos individuais e das minorias”. (http://www.significados.com.br/).

“Uma das principais funções da democracia é a proteção dos direitos humanos fundamentais, como as liberdades de expressão, de religião, a proteção legal, e as oportunidades de participação na vida política, econômica, e cultural da sociedade. Os cidadãos têm os direitos expressos, e os deveres de participar no sistema político que vai proteger seus direitos e sua liberdade”. (http://www.significados.com.br/).

“O conceito de democracia foi evoluindo com o passar do tempo, e a partir de 1688, na Inglaterra, a democracia era baseada na liberdade de discussão dentro do parlamento. De acordo com alguns filósofos e pensadores do século XVIII, a democracia era o direito do povo de escolher e controlar o governo de uma nação”. (http://www.significados.com.br/).

“Em alguns países, a evolução da democracia ocorreu de forma muito rápida, como no caso de Portugal e Espanha. Apesar disso, essa rápida evolução criou uma insegurança política. Em países como Inglaterra e França, uma evolução lenta da democracia teve como consequência o desenvolvimento de estruturas políticas estáveis”. (http://www.significados.com.br/).

O processo democrático na concepção liberal organiza o Estado junto ao interesse da sociedade, como aparato da administração pública e a sociedade sendo o sistema, estabelecido dentro de uma economia de mercado, a política cumpre a função de formatar as vontades individuais a esfera estatal visando o coletivo.

 “A democracia no Brasil sofreu ao longo dos tempos vários ataques e foi instituída ou fortalecida em diversas ocasiões. Existiram duas forças de democratização, uma em 45 e outra em 85”. (http://www.significados.com.br/).

“A ditadura militar foi uma das maiores afrontas à democracia, e a consciência democrática foi um forte elemento de oposição à ditadura”. (http://www.significados.com.br/).

Outro tema a ser ressaltado é a violação de direitos que lamentavelmente ocorre constantemente no Brasil. O que podemos entender como violação de direitos relaciona-se a algo que é descumprido, de forma inconstitucional, um dever que não está sendo efetivado de forma sensata, pode ser considerado como uma forma de negligencia por parte do Estado no tocante a direitos e políticas públicas.

3  CONCLUSÃO

O que podemos concluir através dos estudos, é que uma forma democrática e ética de gestão social deve ser proposta, enfatizando a liberdade e a participação da sociedade nos processos de decisão, o pensamento coletivo deve ser ressaltado, a articulação e o trabalho intersetorial igualmente.

Os profissionais competentes devem estar engajados nesta causa, o diálogo e o trabalho em rede são fundamentais neste processo de gestão social, o objetivo inexoravelmente deve ser de busca pela emancipação do ser humano enquanto indivíduo que pensa criticamente acerca da sociedade contemporânea.

A democracia deve ser revitalizada e almejada como força motriz da sociedade, a cidadania como conceito fundante de toda esta gama de interesses e de reprodução social, não devemos nos abater com os desafios a serem superados, a organização e o controle social são extremamente importantes em todo este processo de gestão social democrática e participativa.

A emancipação é possível? A resposta somente saberemos com planejamento estruturado, organização, diálogo, e estudos aprofundados sobre sociedade e políticas públicas, trabalho e empenho por parte dos indivíduos envolvidos, engajamento e consciência sobre os desafios que nos cercam, das dificuldades inerentes a toda esta complexidade de reprodução social, de luta de classes, exploração e sistemas econômicos e políticos.

REFERÊNCIAS

FRANÇA FILHO, Genauto C. Definindo Gestão Social. Texto apresentado no I Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Social (I ENAPEGS) – Juazeiro do Norte-CE, 23-25-05-2007.

ALVES DA SILVA, Ademir.  O debate contemporâneo sobre a gestão socialSeminário Nacional: Gestão de Políticas Sociais e Território, Londrina-PR, realizado nos dias 2 e 3 de abril de 2013.

TENÓRIO, Fernando G. Gestão social: uma perspectiva conceitua. Rio de Janeiro-RJ, 1998.

PÓLIS – Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais, agosto/08.

(http://www.significados.com.br/) 

TRABALHO APRESENTADO NA PÓS-GRADUAÇÃO DA UNOPAR/CP/PR. (2015-2018).

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