Educação e Transformação em pleno século XXI


Educação e Transformação em pleno século XXI


LUIZ HENRIQUE MICHELATO

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RESUMO

Este artigo pretende apresentar e problematizar a educação pelo viés crítico em contraste com a abordagem neoliberal, relacionando a atuação da psicopedagogia sobre a estruturação do meio, entre escola, sociedade, alunos e profissionais. O presente trabalho se realiza por meio de pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa e do estado da arte, estruturado pela concepção do materialismo histórico-dialético ao apresentar as nuances acerca da pedagogia histórico-crítica e o trabalho do psicopedagogo ao considerar o meio no qual se insere o aluno que apresenta dificuldades de aprendizagem. Finalizamos o texto fazendo referência a Lei nº 13.935/2019 que determina a atuação multiprofissional e multidisciplinar na rede pública de educação básica brasileira, buscando fortalecer o processo de ensino-aprendizagem através do Projeto Político-Pedagógico instituído nas escolas. 

Palavras-chave: Educação; Transformação; Psicopedagogia. 

SUMMARY

This article intends to present and problematize education from a critical perspective in contrast to the neoliberal approach, relating the role of psychopedagogy on the structuring of the environment, between school, society, students and professionals. The present work is carried out through bibliographical research, of a qualitative nature and of the state of the art, structured by the conception of historical-dialectical materialism when presenting the nuances regarding historical-critical pedagogy and the work of the psychopedagogue when considering the environment in which it takes place. includes the student who has learning difficulties. We end the text by referring to Law No. 13,935/2019, which determines multidisciplinary and multidisciplinary action in the Brazilian public basic education network, seeking to strengthen the teaching-learning process through the political-pedagogical project established in schools. 

Keywords: Education; Transformation; Psychopedagogy. 

Introdução 

Este artigo procura problematizar a educação pela abordagem histórico-crítica em contraste com a educação conservadora e neoliberal, avaliando a atuação do psicopedagogo em relação ao meio no qual estão inseridos os alunos, professores, escola e sociedade.

A pesquisa se realiza através de estudo bibliográfico e estado da arte, de natureza qualitativa e estruturada pela concepção do materialismo histórico-dialético, ao apresentar os impactos nocivos do capital em ambiente escolar, no qual são infindáveis as condições desiguais impostas pelo modo de produção capitalista, gerando intensa pobreza, miséria e outras mazelas, culminando nas dificuldades de aprendizagem dos alunos.

Neste trabalho são abordadas as diferenças entre a perspectiva progressista e neoliberal, configurada por meio do caráter político e acadêmico no qual se respaldam tais abordagens, uma vez que a abordagem neoliberal confere poder a classe dominante, e a abordagem progressista à classe trabalhadora explorada pelo capital.

Trabalhamos acerca da importância do trabalho do psicopedagogo em ambiente escolar e institucional, implicando no processo de ensino-aprendizagem ao considerar o meio no qual estão inseridos os alunos, pois, em muitas situações existem casos de desnutrição, insegurança alimentar, pobreza, violência, entre outras mazelas que refletem negativamente no processo de ensino-aprendizagem.

Finaliza-se o artigo ao abordar sobre a implementação de equipes multiprofissionais e multidisciplinares através da Lei nº 13.935/2019, atuando frente ao processo de ensino-aprendizagem ao realizar a interlocução e interface com outras disciplinas e categorias profissionais, reforçando o trabalho por meio do Projeto Político-Pedagógico escolar, atuando com equipes formadas por assistentes sociais, psicólogos, psicopedagogos, pedagogos, professores e demais profissionais que compõem a rede pública de educação brasileira. 

1.    Educação crítica e transformação

Segundo Saviani (2013) existe a relação entre educação e luta de classes na sociedade contemporânea, refletindo numa violência permeada pelo fascismo ao avaliar a educação escolar por meio da abordagem histórico-crítica. Considera-se a divisão antagônica entre as classes, considerando que a pedagogia histórico-crítica baseia-se na prática educativa enquanto mediadora no interior da prática social.

A sociedade atual estrutura-se pelo domínio do capital, uma vez que os meios de produção encontram-se concentrados com os capitalistas, configurada como classe dominante, regidas pelos princípios do liberalismo em relação a liberdade, igualdade e a propriedade. Essa forma de sociedade se estabelece entre a figura do trabalhador e do capitalista, dessa maneira o trabalhador necessita vender sua força de trabalho, e o capitalista possui os meios de produção. “Portanto, na sociedade capitalista defrontam-se no mercado proprietários aparentemente iguais, mas de fato desiguais, realizando, sob a aparência da liberdade, a escravização do trabalho ao capital”. (SAVIANI, p. 23, 2013).

Predomina os interesses antagônicos e divergentes entre as classes, definindo o papel e função da educação escolar que atua a serviço dos interesses do capital e da classe dominante, divergindo dos interesses dos trabalhadores, considerando ser impossível a neutralidade, pois, a educação é considerada como um ato político, diante das considerações realizadas.

Dessa forma, a educação encontra-se inserida na sociedade, de acordo com Saviani (2013), considerando o teor da pedagogia histórico-crítica ao atuar frente as demandas e anseios da classe trabalhadora, pelo viés da pedagogia contra hegemônica na luta pela transformação social. Trata-se de tentar vencer as imposições da classe dominante diante de sua manutenção, consolidação e perpetuação apresentadas na história da humanidade há séculos.

A classe dominante trabalha para que as contradições não venham à tona, visando conservar sua ordem social ao evitar a construção de uma nova estrutura, considerando que os interesses da classe dominante caminham contra a história, freando o processo histórico em nível conjuntural. 

 

Inversamente, a perspectiva dos interesses dominados aponta no sentido da aceleração do processo histórico, de se “empurrar” para frente o processo histórico. Por que isso? Porque não interessa às camadas dominadas a manutenção da estrutura, mas sua transformação; interessa construir um tipo de sociedade que os liberte da situação de dominação. Assim sendo, na perspectiva da classe dominada, as crises de conjuntura são vistas como manifestação das contradições da estrutura e, portanto, sua ação vai na direção de explorar os elementos de conjuntura no sentido de que eles possam vir a alterar a própria estrutura. Consequentemente, os elementos de conjuntura são vistos como instrumentos para trazer à tona, para pôr em evidência as contradições de estrutura e, nesse sentido, mudar a correlação de forças para a transformação da própria sociedade. (SAVIANI, p. 27, 2013).

 

A educação escolar se encontra nessa seara, considerando o trabalho dos professores em relação ao possível processo de integração a essa conjuntura imposta pelo capital ao atender os interesses da burguesia, segurando a marcha da história, de acordo com Saviani (2013), ou explicitando as contradições do modo de produção capitalista, visando acelerar a marcha da história ao participar da luta de classes do proletariado em fortalecer a transformação social estrutural da sociedade.

É fundamental que os profissionais da educação recebam formação ética e profissional consistente, conforme indica Libâneo e Pimenta (1999), no qual algumas mudanças são necessárias em relação ao quadro atual. Os autores referenciam que o debate sobre o movimento de reformulação dos cursos de formação do educador foi realizado durante a I Conferência Brasileira de Educação em São Paulo em 1980, debatendo sobre o currículo referente aos cursos de pedagogia e de licenciatura, havendo um resultado modesto acerca da formação dos educadores.

A escola pública necessita de profissionais críticos e engajados pelos direitos humanos e que recebam formação coerente a essa metodologia, enquanto prática relativa ao fazer pedagógico que pode ultrapassar a sala de aula, buscando organizar a escola de forma realmente democrática concernindo ao processo de democratização da escolaridade.

As escolas necessitam de políticas educacionais que viabilizem seu funcionamento interno, segundo Libâneo (2020), avaliando os impactos das políticas neoliberais em relação a obrigação de resultados na qualidade do ensino, propondo uma forma de ensino restrita e restritiva sobre as possibilidades da escola promover o desenvolvimento humano dos alunos e a imprescindível justiça social.

O que se produz nessa abordagem é a completa desfiguração da escola, sobretudo em relação a promoção das condições institucionais, curriculares e pedagógicas, compreendendo o conhecimento social e histórico no âmbito da luta de classes, considerando o desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos educandos.

Existe uma relação intrínseca entre desigualdade social e desigualdade escolar, nos termos de Libâneo (2020), principalmente entre educação e pobreza, implicando no processo de ensino-aprendizagem. Avalia-se o caráter econômico, sociológico, político e pedagógico acerca dos condicionantes da sociabilidade burguesa.

Os elementos que se apresentam, refletem sobre a questão da ação educativa na sociedade em sua totalidade, bem como a função da escola em relação as desigualdades sociais, vinculada a análise sociopolítica, buscando construir uma escola socialmente justa.

As questões imbricam-se sobre as finalidades educativas das escolas em relação as crianças e jovens pertencentes as famílias pobres, segundo Libâneo (2020), bem como seu envolvimento sobre as políticas educacionais, as diretrizes curriculares, projeto pedagógico e curricular das escolas, seleção de conteúdos e metodologias de ensino, organização, currículo de formação de professores e as formas de avaliação de sistemas de ensino e da aprendizagem dos alunos. 

 

As finalidades educativas escolares indicam orientações tanto explícitas quanto implícitas aos sistemas escolares, definem atribuição de sentido e valor ao processo educativo, induzem ações nos planos empírico e operacional para as práticas de ensino-aprendizagem. São portadoras de ideologia, de juízos de valor, conforme contextos político, econômico, cultural e socioeducativo e, assim, definem critérios de qualidade do ensino e reverberam nas políticas educacionais e no trabalho das escolas e professores (LIBÂNEO, 2019). As finalidades refletem, igualmente, a noção de ser “educado” numa determinada sociedade conforme contextos sociais, culturais, políticos e, assim, determinam parâmetros pelos quais os agentes educativos fundamentam suas práticas. (LIBÂNEO, p. 35-36, 2020). 

 

A educação brasileira orienta-se por políticas liberais e conservadoras, considerando as finalidades educativas escolares e sobre o funcionamento das escolas e salas de aula. Trata-se da forma de “fazer a cabeça” dos educadores, de acordo com Libâneo (2020), realçadas pelas competências socioemocionais e das políticas baseadas em evidência.

Ademais, a escola deve ser socialmente justa, acreditando em seu valor e conhecimento, em contraponto as ideias neoliberais que se baseiam no movimento meritocrático através de testes de larga escala, o que proporciona a exclusão e a desigualdade escolar, segregando a sociedade e os pobres. A proposta deve ser voltada para a justiça social e a emancipação ao desenvolver as potencialidades de crianças e adolescentes.

Existe o direito a educação e o conceito de escola socialmente justa, de acordo com Libâneo (2021), enquanto princípios de uma sociedade realmente democrática, pois, toda pessoa tem direito a educação e ela deve permitir a plena expansão da personalidade humana e a construção da cidadania.

Nesse sentido, deve-se compreender quais as finalidades educativas em âmbito escolar e social, conferindo um terreno de disputas no campo político e acadêmico. No campo político se identificam as propostas neoliberal e progressista, acerca do funcionamento da sociedade e sobre o destino humano das pessoas.

No sistema brasileiro de ensino, predomina a abordagem neoliberal, segundo Libâneo (2021), implementando uma escola que atue na formação de capacidades produtivas preparando os sujeitos para o mercado de trabalho, atendendo aos interesses do mercado e da economia global através de um currículo de resultados e de retrospecto utilitário.

A abordagem progressista trata a educação pelo viés da emancipação humana, propondo o desenvolvimento das potencialidades humanas dos educandos, fortalecendo os conteúdos de ciência, arte e da estimulação do senso crítico, valorizando a sensibilidade e o desenvolvimento de valores sociais e morais coletivos, potencializando formas criativas de participação na vida social, profissional e cultural dos seres humanos em sociedade, atuando na busca pela construção de uma sociedade realmente justa e democrática, conduzida pela abolição do modo de produção capitalista, no qual deve caminhar a marcha da história da humanidade. 

 

Tendo em vista os dois planos de análise, o político e o acadêmico, a grande variedade de respostas à pergunta “para que servem as escolas”, principalmente a escola para a camada empobrecida da sociedade, traz posições conflitantes acerca do que pode ser a escola socialmente justa. Na perspectiva neoliberal ela é vista como preparação para a empregabilidade imediata e qualificação profissional e ajustamento do comportamento dos indivíduos aos valores sustentados pelo mercado. Essa concepção é posta em prática pela atual BNCC. Na perspectiva progressista as finalidades e funções da escola são vistas de duas maneiras. Na primeira, a escola visa ao atendimento à diversidade sociocultural em que o critério de justiça social é a atenção à diferença, às identidades culturais. Na segunda, a escola tem como finalidade a formação cultural e científica articulada com a diversidade sociocultural, entrelaçada com as condições sociais, culturais e materiais das vivências dos alunos. (LIBÂNEO, p. 103, 2021). 

 

Em âmbito escolar é necessário abordar as relações entre finalidades educativas escolares, práticas de organização e gestão, bem como o processo de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos e professores, segundo Libâneo (2023). Parte-se do pressuposto de que os alunos não são educados e ensinados somente em sala de aula, enfatizando também as formas de organização e gestão escolar para educar e ensinar.

Nesse sentido, abrange a questão do contexto sociocultural e o modo de funcionamento da escola enquanto práticas educativas, pois, eles educam e ensinam, proporcionando aprendizagens e mudanças no modo de pensar e agir dos indivíduos, fortalecendo o desenvolvimento humano.

As práticas educativas refletem na qualidade do ambiente social do cotidiano escolar, na organização da escola, na estrutura de funcionamento, no processo de tomada de decisões e no relacionamento entre as pessoas e nas práticas rotineiras em relação a entrada dos alunos na sala de aula, a forma de lidar com os problemas de disciplina, recreio, distribuição da merenda, higiene dos banheiros, limpeza, entre outros fatores relevantes durante o processo educacional e pedagógico em ambiente escolar, conforme indica Libâneo (2023). 

 

Isso significa que as crianças aprendem pela participação em práticas sociais, culturais e familiares que compõem a situação social de desenvolvimento, inclusive nas práticas na sala de aula. Desse modo, as condições providas pelas formas de organização e gestão dizem respeito, obviamente, as atividades de ensino e aprendizagem, mas envolvem, também, o ambiente social configurado pelas formas de organização e gestão. Em síntese, as práticas institucionais e as formas como estão organizadas podem promover ou inibir o desenvolvimento de motivos, comportamentos, valores, modos de agir e modos de sentir dos alunos de uma escola. Trata-se, pois, de criar e manter formas de organização e gestão que assegurem as melhores condições para promover a aprendizagem e o desenvolvimento de professores e alunos. (LIBÂNEO, p. 92, 2023). 

 

2.    Psicopedagogia e o processo de ensino-aprendizagem 

Contudo, a Psicopedagogia procura solucionar as questões relativas aos problemas de aprendizagem, considerando a complexidade de fatores que envolvem tal temática, de acordo com Bossa (2019), abrangendo a prática clínica e preventiva, algo que compreende mais de 30 anos de estudos no Brasil.

Nesse sentido, a Psicopedagogia se apresenta em três conotações, enquanto prática e espaço de investigação em relação ao ato de aprender e sobre sua forma enquanto saber científico, considerando sua recente argumentação teórica e que abrange as áreas da Psicologia e Pedagogia, buscando solucionar problemas antigos, sobretudo acerca dos problemas de aprendizagem.

A Psicopedagogia possui essência multidisciplinar, conforme indica Bossa (2019), sendo essencial a aliança entre teoria e prática, necessitando de grande conhecimento teórico e compromisso social ao abranger várias áreas como a Psicologia da Aprendizagem, Psicologia Genética, Teorias da Personalidade, Pedagogia, fundamentos da Biologia, fundamentos da Linguística, fundamentos da Sociologia, fundamentos da Filosofia, fundamentos de Atendimento Psicopedagógico, construindo a prática psicopedagógica.

O compromisso do psicopedagogo deve se vincular a realidade escolar através da constante reflexão, buscando superar os inúmeros obstáculos e desafios que se apresentam na realidade. Trata-se da produção de um conhecimento científico, enquanto perspectiva teórica aplicada que busca compreender o processo de aprendizagem.

A Psicopedagogia se apresenta enquanto ciência de caráter interdisciplinar, segundo Bossa (2019), permeando seu objeto de estudo, não se limitando apenas as áreas da Psicologia e Pedagogia, uma vez que busca criar seu próprio objeto de estudo em seu corpo teórico, abarcando as áreas da Psicanálise, Linguística, Fonoaudiologia, Medicina, e também das neurociências.

Compreende o processo de aprendizagem humana de várias áreas do conhecimento, surgindo para tentar explicar os condicionantes do fracasso escolar, uma vez que a Psicologia e a Pedagogia não eram suficientes para explicar essa realidade, pois, envolviam questões de desnutrição, problemas neurológicos, psicológicos, bem como a precariedade na formação do professor, compreendendo os aspectos relacionados a Disfunção Cerebral Mínima, durante a década de 1970, no Brasil, enquanto causa do insucesso escolar.

Torna-se relevante avaliar não somente os fatores neurológicos, como também vários condicionantes que podem afetar os problemas de aprendizagem, considerando o enorme contingente de crianças diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), de acordo com Bossa (2019), se apresentando enquanto principal causa para o fracasso escolar.

Considera-se importante rever a metodologia das escolas, diante de tamanha complexidade que se identifica, compreendendo uma realidade na qual se apresenta o chamado Transtorno do Neurodesenvolvimento, de acordo com o DSM-5. Todavia, trata-se de interpretar esse fenômeno, enquanto nova arquitetura cerebral, considerando as profundas mudanças e alterações ocorridas no mundo, tratada como decorrência natural por meio das experiências que se articulam através da história da humanidade.

Segundo Bossa (2019), a indagação que se apresenta diante das circunstâncias atuais remete ao estresse dos seres humanos, condicionando o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, algo que compreende o campo de atuação da Psicopedagogia e suas implicações na prática.

O objeto de estudo da Psicopedagogia refere-se ao processo de aprendizagem humana, seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como sobre a influência do meio, como a família, a escola e a sociedade, em seu desenvolvimento.

Se avalia o ato de aprender e ensinar, compreendendo as realidades interna e externa da aprendizagem de forma conjunta, procurando estudar a construção do conhecimento diante de toda complexidade ao relacionar os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que se articulam, conforme indica Bossa (2019).

Trata-se de estudar o processo de aprendizagem e suas dificuldades que abrangem vários campos do conhecimento de maneira integrada e sintetizada. Compreende os enfoques preventivo e terapêutico, considerando o ser humano em desenvolvimento enquanto ser educável, retratando as possibilidades do aprender em sentido amplo, integrando a escola, família e comunidade. Envolve os professores, pais e administradores sobre as etapas do desenvolvimento, sobre os processos de aprendizagem, identificando, analisando e elaborando uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem, segundo Bossa (2019).

A Psicopedagogia busca atender os portadores de dificuldade, objetivando fazer a reeducação ou remediação ao promover o desaparecimento do sintoma. Compreende o processo de aprendizagem e a relação que se estabelece com o aprendiz, investigando o processo de dificuldade de aprendizagem em todas as suas variáveis. Contudo, trata-se de buscar melhorias nas relações de aprendizagem entre alunos e educadores.

Nesse sentido, o objeto de estudo da Psicopedagogia abrange principalmente o processo de aprendizagem humana, segundo Bossa (2019), constatando a enorme complexidade que envolve esse campo de estudo e atuação profissional em torno da práxis psicopedagógica, referindo-se a aprendizagem com seus problemas que constitui o pilar-base da Psicopedagogia.

A Psicopedagogia surge no Brasil para responder aos problemas em relação ao fracasso escolar, segundo Silva (2023), evoluindo de acordo com seu objeto e seus objetivos. Surgem os sintomas sobre as dificuldades de aprendizagem, desatenção, desinteresse, lentidão, astenia, entre outros. Dessa maneira, seu objetivo é remediar estes sintomas, caracterizada apenas como mau desempenho, portanto, um produto a ser tratado.

Os sintomas se desencadeiam através do aspecto afetivo, cognitivo e social, enquanto valores relativos, alterando o objeto da psicopedagogia, não avaliando somente o sintoma, como também o desempenho, os bons e maus resultados e a gênese da aprendizagem, conforme expõe Silva (2023), destacando o processo de aprendizagem enquanto objeto de intervenção da Psicopedagogia, se desenvolvendo enquanto saber independente através de seus próprios instrumentos.

As autoras Acampora e Acampora (2023), destacam que lidar com pessoas representa um desafio diário de autoconhecimento, abrangendo relacionamento e busca de superação, no qual é preciso aprender a aprender, dedicando-se ao novo e as formas distintas de ampliar nosso conhecimento.

A Psicopedagogia representa um campo de atuação no que tange a investigação e o estudo de padrões de aprendizagem, sejam normais ou disfuncionais, considerando a pessoa e sua relação com o meio em que vive, compreendendo a família, a escola, a sociedade e a cultura que podem interferir e influenciar diretamente os processos de aprendizagem. A Psicopedagogia pode ocorrer em instituições escolares, ONGs e empresas.

A forma como as pessoas compreendem a si mesmas e o mundo, refletem na aprendizagem, considerando o aparato cerebral e psíquico ao se relacionar com a proposta da Psicopedagogia em contribuir com o processo de aprendizagem em relação as potencialidades e o devido e necessário diagnóstico, avaliação, tratamento, intervenção e prevenção, de acordo com Acampora e Acampora (2023).

A pesquisa psicopedagógica apoia-se em campo de estudo que prevê uma profunda investigação e atuação multidisciplinar, conforme expõe Miranda (2019). Compreende seu caráter interdisciplinar ao articular e provocar interfaces entre as disciplinas, e transdisciplinar ao sistematizar seu corpus teórico próprio.

Ao buscar compreender sobre o TDAH, evidencia-se um excesso de diagnósticos enquanto “doença da moda”, sendo um dos transtornos mais estudados e pesquisados pela medicina, abrangendo mais de um século de estudos e havendo comumente diagnósticos equivocados.

O ser humano não pode ser fadado ao não aprendizado, segundo Miranda (2019), de alguma forma todo ser humano pode aprender, considerando que a aprendizagem ocorre desde o início da vida do ser humano, mesmo dentro da barriga da mãe.

Aprender envolve os aspectos cognitivo, o corpo e o afetivo, algo que se desenvolve de acordo com cada pessoa, considerando que nem todos os alunos aprenderão da mesma maneira, pois, cada indivíduo possui sua própria individualidade.

Os recursos da psicopedagogia são essenciais como forma de permitir o desenvolvimento da aprendizagem da criança com dificuldade, de acordo com Rocha (2023). O trabalho da prática pedagógica exige de maneira urgente um psicopedagogo para acompanhar o desenvolvimento de crianças especiais.

Corresponde a um suporte qualificado em âmbito escolar, diante das inúmeras demandas em relação aos problemas relativos a dificuldade de aprendizagem, concluindo acerca da relevância do trabalho do psicopedagogo dentro das escolas em favorecer o desenvolvimento dos educandos.

A psicopedagogia na educação pode auxiliar crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, segundo Rocha (2023), propondo métodos de intervenção para atender o aluno em relação ao processo de construção do conhecimento, de forma pensada e articulada metodologicamente, considerando a influência do meio, entre família, escola e sociedade que podem reverberar no desenvolvimento do ser humano.

As intervenções do psicopedagogo ocorrem de forma terapêutica e preventiva entre os alunos e a comunidade escolar, permitindo o fortalecimento dos vínculos entre os alunos e a escola durante o fazer profissional do psicopedagogo, redefinindo os procedimentos pedagógicos tornando-os mais acessíveis ao processo de ensino-aprendizagem.

Contudo, o psicopedagogo pode atuar em consonância com a Lei nº 13.935/2019 que determina o trabalho de assistentes sociais e psicólogos na rede pública de educação básica brasileira, podendo desenvolver um trabalho de forma multidisciplinar e multiprofissional ao potencializar o processo de ensino-aprendizagem dos educandos.

A referida Lei determina o desenvolvimento de ações junto à comunidade escolar ao atuar na mediação das relações sociais e institucionais, podendo ser instituída e implementadas equipes compostas por psicopedagogos, assistentes sociais, pedagogos e psicólogos, compreendendo um trabalho multiprofissional ao atuar de acordo com o Projeto Político-Pedagógico de cada instituição. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O presente trabalho procurou abordar as concepções sobre educação e as práticas educativas em torno do processo de ensino-aprendizagem, analisando os critérios sobre a educação progressista que permeia o âmbito acadêmico, em contraponto a educação conservadora e neoliberal que reforça a perpetuação da classe dominante no poder, construída pelo viés político.

Na sequência ensejamos a atuação do psicopedagogo em ambiente institucional e clínico, conferindo seu trabalho no processo de dificuldades de aprendizagem dos alunos, considerando o meio em que vivem e que impacta de forma nociva o processo de ensino-aprendizagem dos educandos.

Neste sentido, educação e transformação caminham juntas, rumo as possiblidades de intervenção dos profissionais que a realizam, potencializada pela cientificidade necessária em relação ao cotidiano desgastante e desafiador que se apresenta, no qual os profissionais devem estar preparados para enfrentá-los.

O texto é finalizado ao abordar sobre a importância da implementação da Lei nº 13.935/2019, que institui o trabalho multidisciplinar e multiprofissional em âmbito escolar, fortalecendo o processo de ensino-aprendizagem e do Projeto Político-Pedagógico diante das situações de violência, defasagem e evasão escolar, bullying, entre outras demandas que se apresentam de acordo com os impactos prejudiciais impostos pelo modo de produção capitalista. Sistema este que deve ser abolido em caráter de urgência pela classe trabalhadora organizada e consciente de seu papel histórico. 

REFERÊNCIAS 

ACAMPORA, B; ACAMPORA, B. Psicopedagogia institucional: guia prático. 2ª edição, Rio de Janeiro: Wak editora, 2023. 

BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 5ª edição, Rio de Janeiro: Wak editora, 2019. 

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LIBÂNEO, J. C; PIMENTA, S. G. Formação de profissionais da educação: Visão crítica e perspectiva de mudança. Educação & Sociedade, ano XX, nº 68, Dezembro/99.

____________A desfiguração da escola e a imaginação da escola socialmente justa. Marília/Oficina Universitária: São Paulo/Cultura Acadêmica, 2020.

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MIRANDA, M. I. A produção da pesquisa na psicopedagogia. Curitiba: CRV, 2019. 

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