Uma Breve Análise Sobre a Abordagem Crítica no Ensino de Geografia

Turma do 8º ano do Colégio Estadual Monteiro Lobato. Cornélio Procópio/PR, 2018.
MICHELATO, L. H; PEDRASSINI, E.

Uma Breve Análise Sobre a Abordagem Crítica no Ensino de Geografia


RESUMO: O presente artigo pretende analisar a abordagem crítica no ensino de geografia e seus desdobramentos com relação a formação de cidadãos reconhecedores de direitos e deveres na sociedade capitalista neoliberal, desta forma procurou-se trabalhar com autores clássicos e contemporâneos no âmbito da ciência geográfica apresentando os contrapontos entre as abordagens tradicional e crítica. O ensino de geografia é imprescindível no processo de formação da cidadania e da democracia, buscando construir uma sociedade justa e igualitária, trazendo o conhecimento geográfico para a realidade do educando, buscando facilitar sua compreensão com o conhecimento prévio que já possui acerca de seu cotidiano, desta forma torna-se imperativo a discussão sobre tais abordagens no âmbito da ciência geográfica.


PALAVRAS CHAVE: Ensino tradicional. Abordagem crítica. Aprendizagem


INTRODUÇÃO


Com o presente artigo procurou-se apresentar a abordagem crítica como forma de propor aos educandos reflexão e autonomia sobre o cotidiano em que vivem. Propondo o desenvolvimento de ideias de certa forma libertárias em uma época de constantes e aceleradas transformações sociais e culturais, trazendo para o campo da geograficidade questões econômicas, políticas e ecológicas numa perspectiva de inter-relações visando problematizar aspectos entre natureza e sociedade no âmbito do ensino de geografia.

Apresentando de forma crítica os processos de colonização, o imperialismo e as guerras, como algo extremamente prejudicial à sociedade e fundamentalmente a população em situação de vulnerabilidade social no tocante a ciência geográfica, o respeito às diversas formas de civilização, livre de qualquer forma de preconceito.

Problematizando sobre os comportamentos adquiridos através da educação e pelos círculos de amizade e dos comportamentos inatos, sendo uma discussão constante no âmbito da ciência geográfica, e com relação ao problema da liberdade e de questões vinculadas ao determinismo. Problematizando a afirmação bem conhecida de que “os negros são preguiçosos no trabalho porque faz demasiado calor em seus países”.

O devido reconhecimento às leis naturais onde o homem nada pode, e a constante variação entre os elementos no espaço e no tempo, representando “meio-espaço” e “meio-tempo” e a constante modificação de nossas percepções, a importância do valor relativo de todas as coisas impedindo qualquer forma de hierarquia metódica de causalidades.

Trabalhando o processo de adaptação do homem as condições naturais modificando se houver os meios necessários para tal atividade, utilizando-se de diversos exemplos e mapas se distanciando da ortodoxia ou dogmatismos, a busca incessante com a real complexidade da sociedade, e a construção de uma sociedade libertária. A criticidade enquanto ferramenta essencial de construção do conhecimento sendo pujante no sentido de afastamento da abordagem possibilista.

Trabalhando com os educandos conceitos como a luta de classes, a busca do equilíbrio, e a decisão soberana no indivíduo no âmbito da ciência geográfica com relação ao caos social do sistema capitalista neoliberal vigente que literalmente propõe a barbárie como forma de sustentação de sua estrutura. O despertar das potencialidades dos educandos deve ser o principal objetivo dos professores de geografia.

A confiança na ação revolucionária do homem, no movimento político, econômico, social e cultural, a crença no urbanismo enquanto ação sociopolítica e de reflexão geográfica, a problematização acerca dos contrastes entre luxo e miséria, a desigualdade social e as diferenças perceptíveis entre as classes sociais, a apresentação das dinâmicas, das individualidades e dos antagonismos.

Procurou-se trabalhar neste texto abordagens libertárias anarquistas e a perspectiva crítica progressista, apresentando conceitos na gama do conhecimento geográfico, e elaborando a crítica ao ensino tradicional e maçante que propõe a repetição embrutecedora que afasta os educandos do conhecimento. Neste sentido a abordagem crítica torna-se imprescindível no processo de formação da cidadania e da democracia no âmbito da ciência geográfica e no trabalho docente do geógrafo, e numa possível transformação social, através da emancipação humana.


CIÊNCIA GEOGRÁFICA E ENSINO


Onde o meio é sempre infinitamente complexo. “O homem é uma parte desse meio e de sua dimensão física, a natureza (“o homem é a natureza adquirindo consciência de si mesma”) (RECLUS, 2011, p. 12). Apresentando o domínio da natureza pelo homem e suas respectivas leis, sabendo quais serão as consequências de seus atos, criticando a ideologia do “super-homem”, sendo aristocratas do pensamento ou da riqueza.

Pode-se falar em crises no âmbito da ciência geográfica e suas diversas formas de abordagem, as discussões que permeiam a questão do ensino de geografia e seu potencial de mudança e transformação da sociedade. Entretanto o que se apresenta é uma precariedade com relação às formas dos educandos entenderem o mundo, devendo analisar o contexto do modo de produção capitalista e seus rebatimentos no ensino de geografia, submetendo nossas concepções a realidade histórica para podermos construir o universo da diversidade. 

Avaliar os indivíduos em seu processo de socialização e seus antagonismos em evidência e o processo de dominação de uma classe sobre a outra. “ Desta forma, numa sociedade capitalista, a educação busca sempre inculcar valores que sirvam para afirmar a dominação burguesa, mesmo que sobre os princípios da liberdade e da igualdade” (OLIVEIRA, 1994, p. 11). O que se apresenta é uma prática pedagógica da discriminação e da indiferença, ou seja, uma abordagem acrítica.

E não se pode enquanto docentes e educandos isentar-se de tal responsabilidade, e da real distância que se evidencia no cotidiano de trabalho em sala de aula e no processo de construção do conhecimento, onde o elo entre professor e aluno se esvai. A concepção de que nada de novo seja criado, e enquanto a didática for reacionária e conservadora a transformação social não acontecerá. 

Uma pedagogia que recrie os valores para a transformação social se faz necessária, a perspectiva de uma nova proposta educacional e uma constante reformulação dos conceitos científicos distante da abordagem dominante. “Mas naquela que propõe uma história viva do homem e de sua criação”. (OLIVEIRA, 1994, p. 12). 

Educador e educando devem caminhar juntos no sentido de construção do conhecimento buscando compreender a realidade como algo concreto em sua dinâmica inserida no cotidiano, sendo imprescindível analisar o processo de objetivação e subjetivação, representando algo que se complementa em sua diversidade, somente assim é possível propor algo transformador buscando o novo, na possibilidade do vir a ser. 

A geografia deve ser uma disciplina que vise despertar o interesse dos educandos, na pretensão de falar do mundo atual se libertando do que está ultrapassado, a essência de vinculação entre a geografia no campo teórico e a realidade, a importância da centralização do vivido no âmbito do ensino e de ligação com o concreto, e a construção da cidadania proporcionada através da ciência geográfica. 

A abordagem física no âmbito da geografia escolar é muito importante, através da descrição é possível conhecer os lugares onde diversos acontecimentos se passaram, havendo uma certa subordinação da geografia a história no ambiente escolar e uma constante preocupação com a perspectiva patriótica, descartando a questão de se pensar o espaço, e se fazendo um apanhado histórico com o intuito de se situar enquanto cidadão. 

O nacionalismo privilegiou os elementos físicos enfatizando as causalidades deterministas através dos dados naturais. “Assim, o clima explica as mentalidades enquanto que a existência de vias de invasão justifica a procura de fronteiras naturais”. (BRABANT, 1976, p. 18). A proximidade entre a geografia física e a geografia dos militares no âmbito escolar, representando o estudo acerca de questões topográficas e as estratégias adotadas por militares, sendo estes dados de cunho descritivo correspondendo a geografia escolar. 

A geografia física vinculando-se ao enciclopedismo propiciado por parte dos professores de ensino superior, sendo um conhecimento amplamente abstrato representando o famoso plano de “gavetas” fazendo um inventário sobre o conteúdo, distante de integrar um raciocínio, mas de concluir uma determinada nomenclatura. A geografia militar anterior a geografia escolar havendo a necessidade de armazenamento de informações para utilização futura. 

O desenvolvimento da geografia influenciada pela história, prevalecendo um discurso descritivo e determinista se afastando do caráter explicativo, analítico e interpretativo. “Esta característica é reforçada pelo enciclopedismo e avança no sentido de uma despolitização total”. (BRABANT, 1976, p. 19). 

A geografia universitária e a geografia escolar se complementando no processo de construção de conhecimentos, a questão da dinâmica entre a abordagem física e humana, o processo de memorização sendo algo repulsivo aos educandos e a constante abstração proposta pelo enciclopedismo, representando a total despolitização do discurso geográfico, tratando da atualidade sem apresentar algum problema político. 

O nacionalismo é uma perspectiva que propõe a despolitização da ciência geográfica utilizando as fronteiras naturais e o seu objetivo sobre a realidade no processo de demonstração para a descrição, tal despolitização é instaurada pela escola francesa de geografia nos componentes de estudos da região desenvolvida pelo autor Vidal de La Blache. 

A geografia vinculada a um sistema de causalidade falsa se esvaindo no tocante a uma realidade concreta onde persiste o viés ideológico se distanciando de uma possível tomada de consciência política e social envolvendo uma determinada quantidade de professores e estudantes. “Ela tende, assim, a tornar-se aos olhos deles uma disciplina arcaica, incapaz de dar conta dos grandes enfrentamentos do mundo contemporâneo”. (BRABANT, 1976, p. 20). 

A crise da geografia escolar e de seu discurso correspondendo a uma tentativa de sua retirada do âmbito escolar tendo como responsável os meios de comunicação propondo a chamada geografia-espetáculo relegando a ciência geográfica ao mundo pré-histórico. E a questão da eficácia ideológica da geografia em comparação com outras disciplinas como a economia e a sociologia no processo de formação dos cidadãos. 

Respondendo de forma mais eficaz às demandas do mercado de trabalho dos profissionais envolvendo a economia e a sociologia, representando a crise que se instala na geografia com relação ao seu conteúdo e seu lugar na escola em seu processo de reestruturação. 

A construção da escola numa perspectiva liberal voltada para uma minoria tanto no ensino fundamental e médio como no ensino superior teve de rever sua função no processo de reprodução social o que ocasionou uma situação de crise havendo a possibilidade de eliminação da geografia no âmbito escolar que foi ineficaz ideologicamente e economicamente, onde a geografia enciclopedista tornou-se um obstáculo para a forma moderna de escola. 


A ABORDAGEM GEOGRÁFICA NO SÉCULO XXI


Atualmente o ensino de geografia passa por intensas reformulações, bem como os sistemas de ensino em geral, apresentando um imenso desafio com relação ao papel da escola na sociedade e com a dinâmica da cidadania, juntamente com o viés proporcionado pela globalização e com a perspectiva de novos direitos, e com as demandas do mercado de trabalho, relacionando-se a qual tipo de pensamento deve-se providenciar aos educandos no âmbito de sua relação com a comunidade. 

A educação nunca foi tão preponderante como atualmente, visto a importância de seu papel estratégico junto a sociedade capitalista em sua constante dialética e modificação, fundamentalmente no que concerne suas fases de desenvolvimento industrial nos séculos XVIII e XIX, representando a primeira revolução, e posteriormente no século XX a segunda revolução industrial, “havia tão somente a necessidade de uma pequena escolarização pelo menos da perspectiva do sistema -, que atendesse às demandas do patriotismo, da vida moderna na qual tempo é dinheiro”. (VESENTINI, 2013, p. 8).

Sociedade na qual as tarefas são hierarquizadas e divididas, havendo a probabilidade de um serviço mais técnico, não era tão imprescindível um nível de formação mais elevada como se exige atualmente através da própria complexidade que envolve o desenvolvimento da sociedade e do dilema atual do “aprender a aprender” e da necessidade de ser criativo e de ter a capacidade de saber liderar. Tal mudança vem ocorrendo de forma acelerada, no desenvolvimento da terceira revolução industrial havendo a necessidade de uma forma de trabalho cada vez mais qualificada, exigindo maior flexibilidade, reciclagem e o “aprender a aprender” são significativamente mais importantes do que uma formação técnica ou profissionalizante.

A possibilidade de desenvolvimento social acontecer depende inexoravelmente dos recursos humanos e do poder cerebral, do que dos recursos naturais e financeiros, desde a década de 1990 o Banco Mundial concede empréstimos aos países em desenvolvimento sob a exigência de existir investimentos em educação e na qualificação de mão de obra. Uma das características do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, abrange a questão das taxas de escolaridade e o acesso a ela, “O desenvolvimento deve ser entendido como expansão das capacidades do ser humano, como participação nas decisões, como oportunidades de ser instruído”. (VESENTINI, 2013, p. 9). O que vigora atualmente nos planos de ensino do Brasil e de vários outros países são conteúdos e disciplinas minimizados onde o preponderante passa a ser o “aprender a aprender, a conviver, a ser e a fazer.

Algumas indagações transcendem a realidade da ciência geográfica e do ensino, como se a geografia conseguirá sobreviver a tais condições ou talvez se fortalecer diante do cenário capitalista neoliberal, são questões que não se encontram completamente determinadas, ou seja, ela está se perfazendo cotidianamente no âmbito do materialismo histórico dialético e suas constantes transformações, dependendo de cada realidade nacional apresentada, se realizará pelas condições objetivas e subjetivas dos educadores, geógrafos e professores, no processo de construção da cidadania, e inexoravelmente pelo processo cultural, político e econômico de cada sociedade, principalmente partindo dos países centrais no âmbito do imperialismo.

A questão do espaço/tempo surge como preponderante nesta nova perspectiva educacional vigente em pleno século XXI, onde deve-se valorizar as escalas local e global, a questão dos direitos humanos, a necessidade de os educandos aprender a se socializar com os outros e a importante questão ambiental. 



Numerosos temas que costumam estar identificados com a geografia são ou tendem a se tornar cruciais no ensino fundamental e médio: conhecer o mundo em que vivemos – ou o espaço geográfico, desde o nível local até o global, passando por todas as escalas intermediárias -, identificar e analisar as relações entre sociedade e natureza, refletir sobre os problemas urbanos, rurais, culturais, étnicos etc. (VESENTINI, 2013, p. 10)



No entanto tal perspectiva não assegura a permanência da geografia no âmbito escolar como ocorre em determinados países onde a geografia foi substituída por outras disciplinas, embora algumas nações tenham aprofundado a ciência geográfica no âmbito escolar, havendo variações em diversas localidades pelo mundo, correspondendo a um momento de redefinições e reformulações, modificando-se de acordo com cada realidade nacional e dos atores envolvidos e seu nível de estratégia e organização. 

Os Estados Unidos a partir da década de 1970 vem se tornando a principal influência com relação à ciência geográfica trabalhada no Brasil, isto ocorreu principalmente pela expansão da “geografia radical” e com o surgimento das chamadas “novas geografias” como a feminista nos Estados Unidos, também proporcionada pela renovação em seu sistema escolar e com relação ao ensino de geografia, revalorizado a partir dos anos de 1990.

Apresentando como o ensino de geografia vem sendo reformulado principalmente no Brasil trazendo abordagens como o estudo do meio, a importância da realização de trabalhos de campo evidenciando a teoria com o real com relação a tendência do educando estar mais próximo do computador e jogos que idealizam o real. “A necessidade de aproximar o ensino da realidade” (VESENTINI, 2013, p.11), havendo países onde são obrigatórias a realização de trabalhos de campo, estudos do meio, visitas a fábricas, entre outras atividades pertinentes a uma melhor compreensão do espaço geográfico. 

A tarefa primordial do educador é de proporcionar a construção de um ensino mais crítico e democrático, que promova a transformação da sociedade e da justiça social, em que o educando possa analisar o mundo em que vivemos para agir de forma consciente, buscando construir valores como a democracia e a cidadania no âmbito da sociedade capitalista neoliberal.

O ensino de geografia no Brasil perpassa uma abordagem histórica no sentido de proximidade com a perspectiva patriótica de ensino, datando do início do século XIX, havendo uma forte relação entre educação, política e ciência, se desdobrando como suposta lei a ser implementada, subdividida entre os que “fazem” e os que “pensam, sinalizando seu período tardio de institucionalização que ocorreu somente após 1930, mesmo havendo a ideia de implantação de um sistema nacional de educação em 1823. “As inextricáveis relações entre a escola, o ensino de geografia e a construção do Estado-nação brasileiro se colocam em evidência, pois, desde o início do século XIX. ” (VLACH, 2013, p. 188).

A influência da doutrina cristã e católica apostólica romana, onde o conteúdo geográfico descrevia o território, as belezas naturais e sua dimensão, a exemplo podemos citar o Colégio Pedro II, fundado em 1837, representando um local de conhecimento em humanidades, abrangendo temas culturais e de formação geral, de nível secundário, influenciando a cultura básica, imprescindíveis a classe burguesa. 

Uma das obras iniciais data de 1905 o “Compêndio de geografia elementar” de Manuel Said Ali Ida destacando o Brasil subdividido em regiões, metodologia na qual limitava a descrição do enorme “Estados Unidos do Brasil” como designado até então. Posteriormente Carlos Miguel Delgado de Carvalho representou avanços para o ensino de geografia aprofundar o conhecimento geográfico baseando seus estudos nas questões naturais do Brasil, observando estar distante da geografia científica.  

Verificamos a perspectiva tradicional vigorando neste período, havendo demasiadas nomenclaturas e abordagens de geografia administrativa, apresentando obstáculos ao desenvolvimento da geografia científica. Delgado de Carvalho defendia um certo afastamento de concepções tradicionais, iniciando neste período discussões sobre as regiões naturais que moldam o território brasileiro.



Em outros termos, a importância que Delgado de Carvalho conferiu ao ensino

de geografia liga-se inextrincavelmente à ideologia do nacionalismo patriótico, e, significativamente, a ciência geográfica deveria fornecer-lhe os fundamentos lógicos, com o fim de atingir um “patriotismo verdadeiro, esclarecido e inteligente”; daí o seu propósito de edificação da geografia científica no Brasil. (VLACH, 2013, p. 195).



A questão do atraso do Brasil era gritante, sendo extremamente necessário progredir cientificamente e tecnicamente e a geografia serviu como ferramenta imprescindível neste processo, discussões sobre a mestiçagem permeavam o discurso de transição entre os séculos XIX e XX sendo influenciados pelas elites da época. 

A geografia foi entendida como ciência preponderante de educação do povo, uma geografia que valorizava as riquezas e belezas do país, a difusão da ideia de território desencadeou alterações “de cima para baixo”, em evidência a construção do cidadão e da nação fortalecendo a concepção de estado brasileiro. “ Muitas escolas anarquistas surgiram no início do século XX. Em 1900, Luigi Basile fundou a primeira -  Dante Alighieri – no bairro do Brás em São Paulo, reduto de imigrantes principalmente italianos”. (PONTUSCHKA, 2013, p. 251).


CONSIDERAÇÕES FINAIS


A abordagem do estudo do meio durante as décadas de 1980 e 1990 compreendeu uma espécie de atividade em que professores e estudantes realizavam alguma tarefa fora da sala de aula ou escola, na perspectiva de aproximação com o real, havendo certa controvérsia sobre o estudo do meio e os interesses conflitantes com relação a obtenção de lucro e ideais individualistas. 

No início do século XX existiu escolas anarquistas sendo pioneiras no Brasil, trabalhando com atividades do estudo do meio, com o processo de imigração europeia da época em que vinham para trabalhar em um amplo processo de industrialização, no embate capital trabalho vigente, de exploração desenfreada, em um ambiente onde o ensino era somente usufruído pelas classes dirigentes no país. 

Os anarquistas eram contrários aos ideais burgueses e liberais de acumulação do capital em detrimento do trabalhador explorado e alienado do processo de produção, as escolas deveriam ser livres e alfabetizar crianças e adultos, levando-os a pensar de forma autônoma, se distanciando da alienação. 

As escolas adotavam como método a abordagem de Francisco Ferrer, as escolas livres se expandiam com o processo de industrialização em várias cidades de São Paulo, a alfabetização tornou-se uma grande necessidade, se espalhando de forma pujante, constitui-se um trabalhador reconhecedor de seus direitos e deveres na sociedade capitalista. 

As escolas ofereciam um ensino racional, que se baseava na observação e formação de uma perspectiva crítica, realizando excursões e descrições, influenciados pela escola de Barcelona, eram desenvolvidos trabalhos fora da sala de aula, onde os alunos tinham o objetivo de observar e descrever o meio natural e social no qual estavam inseridos, e fizessem uma reflexão profunda sobre as desigualdades alarmantes, e das constantes injustiças sociais, na intenção de soluciona-las. A escola livre procurava denunciar as formas exploradoras do capital se proliferar, defendendo inexoravelmente o povo pobre e trabalhador, explorados pelos capitalistas inescrupulosos. 

Desta forma podemos verificar as transformações ocorridas ao longo do processo de formação da escola no Brasil e suas nuances e abordagens diferenciadas, mostrando ser necessário a implantação de um ensino que proporcione transformação social, se aproximando das camadas mais vulneráveis da sociedade, visando abolir toda e qualquer forma de exploração e injustiça social.

Nós educadores, devemos buscar refletir sobre tais alterações e romper inexoravelmente com a alienação propiciada pelo capital, causando impactos nefastos no planeta em seu processo de exploração, necessitamos nos aproximarmos da realidade dos estudantes e de suas demandas inerentes no âmbito da sociedade capitalista neoliberal. 

A análise da totalidade e seus desdobramentos, o materialismo histórico dialético que proporciona constantes modificações no âmbito da sociedade em suas particularidades contraditórias, a abordagem crítica e cidadã deve prevalecer para almejarmos mudança e melhora na sociedade em que vivemos. 

O inconformismo com as mazelas sociais deve ser inerente a nossa prática profissional, aceitar passivamente a opressão burguesa é deixar o sentimento de mudança e transformação enterrado, e a esperança por mudança abandonada, representa o encorajar do cotidiano maçante, que nos assola enquanto trabalhadores, educadores, estudantes e cidadãos, a proposta deve ser emancipatória e decidir por interesses relativos ao proletariado. 

Buscar a compreensão do mundo no qual vivemos e estamos inseridos, alienados do processo de construção capitalista, a busca incessante por qualificação profissional, e acima de tudo, poder transmitir os conhecimentos adquiridos com os educandos, a ciência geográfica é imprescindível no processo de transformação social, é uma disciplina que pode mostrar a realidade gritante que envolve questão social e contextos de criminalidade absurda.

A geografia é a ciência que concilia natureza e sociedade em harmonia, é a ciência que se renova e busca refletir sobre as alterações no mundo e que procura minimizar os impactos nocivos a natureza e ao homem, devemos apresentar as contradições do sistema capitalista e as formas de modifica-lo, capazes de transformar a sociedade, em que predomine a paz e a harmonia entre os seres humanos.

A ciência geográfica deve proporcionar reflexão aos educandos em busca da transformação social e da emancipação humana, o professor de geografia deve procurar trabalhar visando a construção de uma sociedade democrática e solidária, onde a construção do conhecimento se faz através da socialização entre professor e educando.

Formas de libertação das amarras do capital devem ser apresentadas, a constante capacitação e busca por conhecimento por parte do professor de geografia, a renovação e a totalidade que se desdobram devem ser analisadas de forma crítica, a construção de conceitos e a capacidade criativa dos educandos deve ser estimulada pelo professor.

A inovação deve ser buscada por parte do professor, proporcionando aos educandos vontade em aprender sobre as situações do mundo em que vivem, fazendo com que haja uma troca de saberes, uma didática criativa que procure despertar os educandos para a autonomia e emancipação humana.

No entanto sabemos das dificuldades do cotidiano de trabalho do professor e da precarização proporcionada pelo neoliberalismo, onde o sucateamento da esfera pública é gritante, o ensino público é irresponsavelmente destruído, e os alunos desmotivados culturalmente a não gostarem de estudar e buscar conhecimento, estabelecer o que determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação é fundamental, e a cobrança para com os órgãos públicos essencial. 

É necessária a valorização dos profissionais, com propostas constantes de capacitação, a apresentação de temas relacionados a reforma agrária e urbana são do âmbito da ciência geográfica e imprescindíveis aos educandos, pois sabemos que as ideias dominantes são as ideias da classe dominante, sendo temas que não são apresentados na mídia de massa, até como forma de manter a população alienada do processo de produção capitalista, causando impactos nocivos a sociedade, onde a maior parte da população encontra-se desassistida de uma política pública eficaz.

Conectar o conhecimento do livro didático a realidade do aluno deve ser prioridade na prática profissional do professor de geografia, a compreensão sobre o universo em que o aluno vive, a reflexão sobre a política que envolve todo o funcionamento da sociedade e do espaço geográfico é importante neste processo de construção do conhecimento.

Uma proposta de pensar o mundo em sua complexidade se faz necessária em sala de aula, e a ser trabalhada pelo professor de geografia, pois a ciência geográfica consegue problematizar tais questões em vista de uma sociedade emancipada, livre da exploração e opressão capitalista. 

A perspectiva crítica que visa compreender as contradições sociais é importante neste processo de construção do conhecimento, e no amadurecimento da ciência geográfica, o despertar para a democracia e a cidadania, o desenvolvimento de atividades que propicie a participação social, o trabalho intersetorial é fundamental para que os educandos conheçam outras áreas do conhecimento, bem como se desenvolvam enquanto seres humanos.

A busca por alternativas viáveis no processo de construção do conhecimento, o professor deve inexoravelmente buscar se renovar para não cair na monotonia embrutecedora, pois o cotidiano é desgastante, e as mazelas sociais se fazem presentes, em vista da desigualdade social alarmante, principalmente em nosso país onde o processo de concentração de renda é gritante.

 A lógica dialética de constante transformação deve ser apresentada, a análise do território e suas constantes lutas por poder devem ser trabalhadas em sala de aula e fora da sala, permitindo uma compreensão mais aprofundada sobre o espaço em que vivem os educandos. 

O aluno deve construir um conhecimento geográfico sobre a realidade e as contradições que o rodeia, o distanciamento do ensino tradicional deve ser constante, pois a abordagem crítica pode ocasionar transformação social e justiça no tocante a questões como distribuição de renda e participação na riqueza socialmente produzida no âmbito da sociedade capitalista neoliberal, alterações no processo de acumulação de fortunas e de capital, no âmbito do capital financeiro, e a necessidade de interlocução entre as disciplinas, promovendo o desenvolvimento da ciência geográfica e da sociedade. Uma necessária reforma urbana e agrária, propondo a geração de empregos e o desenvolvimento social, conciliando uma rede intersetorial entre profissionais engajados com o desenvolvimento da sociedade e da harmonia e respeito a diversidade e a pluralidade de pensamentos e crenças entre os seres humanos.


REFERÊNCIAS

RECLUS, Élisée. Anarquia pela Educação. São Paulo: Hedra, (Estudos Libertários), 2011.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de, (org.). Para onde Vai o Ensino de Geografia? 5ª Ed. São Paulo: Contexto, 1994. (Coleção repensando o ensino). Vários autores.

VESENTINI, José William. (org.). O Ensino de Geografia no Século XXI. 7ª ed. Campinas/SP: Papirus, 2013. (Coleção Papirus Educação). Vários autores.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

“BOÇALNARISMO”, MARÇALISMO E A DECADÊNCIA DA POLÍTICA

EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI

Deus, Pátria, Família e Liberdade